Consultoria internacional avalia manifestações no Brasil

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Por Fernando Nakagawa e CORRESPONDENTE
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As imagens de milhares de brasileiros nas ruas em protestos podem atrapalhar o esforço do governo de tentar vender uma imagem positiva do Brasil ao exterior. Mas a reação do governo, que tem respeitado a legitimidade das manifestações, colabora para reforçar a imagem democrática do País. A opinião é da analista-sênior da consultoria internacional IHS, Juliette Kerr. "Em última análise, os riscos sobre a reputação do Brasil vão depender muito de como as autoridades lidam com os protestos", diz."As imagens dos protestos certamente ajudam a minar os esforços do governo para usar a Copa das Confederações para mostrar o lado positivo do Brasil", disse ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, a analista sobre o Brasil da consultoria IHS.Juliette Kerr destaca que a reação das autoridades brasileiras contrasta com a recente reação do governo turco às manifestações naquele país. "Na Turquia, manifestantes foram classificados como ''saqueadores'' e ''extremistas'' pelo primeiro-ministro", diz ao comentar que a reação brasileira é mais bem vista pelos investidores estrangeiros. "O fato de que os protestos no Brasil não são dirigidos diretamente às empresas estrangeiras também ajuda a minimizar os riscos de uma reação dos investidores", avalia.A analista reconhece que há focos localizados de reação mais forte nos Estados, mas, no geral, as autoridades têm respeitado as manifestações. "Embora tenha havido críticas à estratégia mais pesada usada pela polícia em São Paulo, a resposta do governo federal tem sido, até agora, bastante positiva, com a presidente reconhecendo o direito dos manifestantes de realizar um protesto pacífico", afirma.Juliette comenta ainda que os serviços públicos parecem estar à frente da lista de reclamações. "Os protestos também refletem profundas frustrações sobre como o dinheiro público é usado e sobre a qualidade dos serviços, principalmente o transporte público e a saúde." Mas ela reconhece que a inflação mais alta também tem sua parcela de responsabilidade na insatisfação popular. "As preocupações mais amplas com a inflação ajudam a mobilizar manifestantes. O movimento também reflete em parte uma pesquisa recente que mostra que o governo de Dilma Rousseff experimentou a maior queda em popularidade desde que tomou posse."Questionada sobre as semelhanças entre os protestos no Brasil e na Turquia, a analista diz que ambos movimentos coincidem ao "refletir o sentimento geral de que a classe política está distante das preocupações da população". Juliette Kerr observa, porém, que há diferenças: os protestos turcos são direcionados especialmente ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. "No Brasil, os protestos não são especificamente anti-Dilma", diz.

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