Comissão de Ética da Presidência abre processo contra Traumann

Ex-ministro terá dez dias para se explicar sobre documento interno que cita 'caos político' no governo

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Por Rafael Moraes Moura e Andreza Matais
Atualização:

Atualizado às 20h35

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Brasília - A Comissão de Ética Pública da Presidência da República instaurou processo para apurar a conduta do ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) Thomas Traumann. O ministro deixou o cargo depois que o site Estadão.com revelou com exclusividade a produção de um documento no qual a Secom apontava "caos político" no governo.

O conselheiro Mauro de Azevedo Menezes, relator do caso na Comissão de Ética, deu despacho favorável à "abertura de processo de apuração de infração ética", sujeito à "aplicação das sanções e recomendações cabíveis". 

O processo foi instaurado no dia 24 de março. No dia seguinte, o jornalista pediu à presidente Dilma Rousseff exoneração do cargo. Houve uma mudança no procedimento padrão da Comissão de Ética, que costuma pedir esclarecimentos antes de abrir processo contra autoridades do governo federal.

Thomas Traumann em evento oficial do governo, no ano passado Foto: Dida Sampaio/Estadão - 27.11.2014

A Comissão de Ética da Presidência foi provocada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que já aprovou na Comissão de Comunicação do Senado pedido para que Traumann seja convidado a explicar o conteúdo do documento. Como se trata de um convite, o ex-ministro pode declinar ou marcar a data, o que ainda não ocorreu.

O documento produzido pela Secom diz que os apoiadores da presidente estão levando uma "goleada" da oposição nas redes sociais e aponta como saída o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad e que funcionou como o centro das manifestações anti-Dilma no dia 15 de março.

Munição. O texto elaborado pela Secom fez uma análise do atual momento político e sugeriu uma série de ações para melhorar a popularidade da presidente Dilma Rousseff e de seu governo. 

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Entre as medidas, apontou que as forças políticas que apoiam a presidente Dilma devem atuar de forma "coordenada e com missões claras", inclusive nas redes sociais. Diz o texto: "A guerrilha política precisa ter munição de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele."

A decisão de abrir processo contra Traumann partiu do próprio presidente da comissão, Américo Lacombe. O relator Mauro Menezes encaminhou ofício ao jornalista solicitando esclarecimentos sobre o documento da Secom. O ex-ministro terá dez dias para prestar explicações.

Como já deixou o cargo, a única sanção cabível contra Traumann é uma censura ética, que, na prática, funciona como uma espécie de "mancha no currículo". Em resposta à reportagem, Traumann disse que os processos na comissão são "sigilosos" e que os seus esclarecimentos "já foram enviados ao conselheiro relator".

A próxima reunião da comissão está marcada para 27 de abril.

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