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Comerciantes e até servidor público estão entre os beneficiados

Em cidades do Maranhão, carteirinha de pescador é usada como complemento de renda; para o setor, fraudes desvalorizam profissão

Por Fabio Brandt
Atualização:

BRASÍLIA - José Valdo Soares, de 42 anos, é quem toca o negócio da família, o Bar do Valdo, em Pinheiro (MA), a 340 km de São Luís. Apesar da dedicação ao estabelecimento, ele está no cadastro de pescadores profissionais do governo federal, o que lhe dá direito a um seguro anual para compensar o período em que a pesca fica proibida e a ter aposentadoria aos 60 anos. "É preciso ter uma vida tranquila, sem roubar. Tem tanto político roubando."

José Valdo Soares mostra carteirinha de pescador Foto: Divulgação

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Documentos mostram o pagamento do benefício até a servidores municipais de Pinheiro. O contracheque de Aracilde da Silva Canidé indica que ela trabalha como auxiliar de serviços gerais da prefeitura. Pelo portal da transparência do governo federal, ela recebeu pagamentos de abril de 2011 a abril de 2013. O mesmo ocorre com o diretor do posto de saúde do povoado de Pacas, Sinval Moraes Marques, que recebeu o benefício até abril de 2014. Eles não foram localizados.

Em Raposa, a 25 km de São Luís, Osvanaldo Farias de Albuquerque, de 37 anos, tem uma pequena oficina de conserto de bicicletas. Pesca só de vez em quando - ele nunca se recuperou por completo de uma lesão na clavícula. Foi o desamparo naquela situação que o motivou a ter a carteira de pescador. Além da aposentadoria, acredita que pertencer formalmente à classe profissional pode lhe dar amparo caso tenha algum problema de saúde.

Osvanaldo tem oficina e pesca "de vez em quando" Foto: Divulgação

O comerciante Almir Bruno, de 42 anos, cuida da loja de artesanato da família, onde vende redes, toalhas e roupas femininas produzidas pela mãe e pela irmã. Já foi pescador no passado, mas diz que, quando melhorou de vida, deixou a atividade. O que não abandonou foi o seguro-defeso. No ano passado, Bueno disse que não conseguiu receber, mas acredita que a situação mude porque o processo está encaminhado na superintendência. Ele diz conhecer outras pessoas que recebem o dinheiro mesmo não sendo pescadoras. A loja de Bruno fica no começo da principal rua comercial de Raposa. No fim da rua, perto da praia, é onde pescadores vendem o produto de seu trabalho. Ali, pescadores de fato reclamam das fraudes. O principal alvo são os comerciantes.

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