Com agenda 'lotada', Cármen Lúcia não participará de encontro com Temer, Renan e Maia

Presidente da República falha ao tentar marcar encontro entre chefes dos Poderes após crise

PUBLICIDADE

Por Tania Monteiro e Carla Araujo
Atualização:

BRASÍLIA - Fracassou nesta terça-feira, 25, a tentativa do presidente Michel Temer de promover uma conciliação entre os presidentes do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em encontro que desejava realizar nesta quarta-feira, 26, no Palácio do Planalto. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também havia sido convidado para o encontro, que não será mais realizado, depois de Cármen Lúcia não confirmar sua presença a Temer.

O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), a ministra do STF Cármen Lúcia e o presidente Michel Temer em cerimônia de posse da magistrada à presidência do Supremo Foto: André Dusek|Estadão

PUBLICIDADE

A presidente do Supremo rebateu nesta terça-feira as críticas feitas por Renan ao juiz de primeira instância Vallisney de Souza Oliveira, responsável pela Operação Métis, que prendeu integrantes da Polícia Legislativa do Senado na sexta-feira, 21. À tarde, o presidente do Senado disse que “faltou uma condenação de usurpação da competência do Supremo por um juiz de primeira instância”.

O convite do presidente da República a Cármen Lúcia foi feito por telefone. Temer estava com Renan em seu gabinete e, com a concordância do presidente do Senado, teve a iniciativa de ligar para a presidente do Supremo, a fim de convencê-la de que o encontro seria benéfico, já que poderia selar a harmonia entre os Poderes.

Cármen Lúcia, de imediato, não recusou o convite, mas afirmou que estava com “dificuldades de agenda” e que daria uma resposta mais tarde. Nesta terça-feira, pelo terceiro dia consecutivo, Renan esteve com Temer.

O presidente da República quer evitar que a crise possa atrapalhar seus planos e colocar em risco a agenda econômica no Congresso. Além da negativa de Cármen Lúcia, Temer tem um outro problema a administrar: Renan já avisou que não se senta à mesma mesa que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

"Ministro da Justiça? Ele representa qual Poder?", questionou Renan, na entrada do seu gabinete logo após se reunir com o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), nesta terça-feira. "Teria muita dificuldade de participar de qualquer encontro com o ministro da Justiça que protagonizou um espetáculo contra o Legislativo", completou.

Originalmente, a reunião entre a cúpula dos Três Poderes estava marcada para a próxima sexta-feira, 28, no Itamaraty, e a pauta seria segurança pública, ou seja, obrigatoriamente teria a presença de Moraes. Com isso, as duas primeiras possibilidades de encontro entre os chefes dos Poderes foram enterradas.

Publicidade

Governo. A ordem no Palácio do Planalto é de minimizar a crise. Mesmo após novos ataques de Renan a Moraes, os assessores de Temer avisaram ao ministro da Justiça que era para ele não revidar e tentaram colocar “panos quentes” na situação.

Moraes, que foi chamado por Renan de “chefete de polícia”, tem protagonizado polêmicas. No entanto, o presidente não está discutindo, neste momento, a possibilidade de substituí-lo, até mesmo pela dificuldade relatada de encontrar um nome para a pasta. Além disso, uma troca poderia criar uma nova “marola” em um momento importante de votação no Congresso.

Apesar de a reunião desta quarta-feira ter sido cancelada, Renan pode voltar a se encontrar com Temer no Planalto. Embora o governo esteja satisfeito com a proximidade de Renan do Planalto – pois precisa dele para acelerar e aprovar o PEC que limita os gastos públicos –, interlocutores de Temer demonstram receio com o comportamento considerado intempestivo do presidente do Senado.

Alguns chegam a comparar a postura de Renan à adotada pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que abriu diversas frentes de guerra e acabou preso na Operação Lava Jato. Renan é investigado em 11 inquéritos no Supremo. Para assessores palacianos, a estratégia de confrontar o Judiciário poderá não ser boa para o presidente do Senado. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.