CNBB divulga carta aberta e convoca fiéis para vigília

Por Agencia Estado
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou hoje uma carta aberta população em que propõe indignação, solidariedade, compromisso e convoca os fiéis a participarem da vigílias cívicas contra a corrupção, marcadas para o dia 13 de maio em comunidades e paróquias de todo o País. Segundo o presidente da CNBB, Dom Jayme Henrique Chemello, os crimes de corrupção devem ser investigados e os responsáveis, punidos exemplarmente. Ontem, a CNBB divulgou uma nota pela ética e dignidade na política. No documento, pede que as denúncias seja apuradas. "Impelidos pela fidelidade ao Evangelho, não podemos deixar de falar. Desejamos uma apuração imediata e transparente, utilizando os instrumentos legais de que dispõem a sociedade, entre eles a Comissão Parlamentar de Inquérito", divulga a nota. E acrescenta: "Deixar de apurar denúncias e elucidar fatos, mantendo-os encobertos e, conseqüentemente, impunes, favorece o descrédito das instituições e o desgaste da função política". Chemello adiantou hoje, na Vila Kostka, em Itaici, na cidade de Indaiatuba, que na quinta-feira membros da CNBB irão se reunir em Brasília com representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entre outras entidades, para discutir como se posicionar ante os recentes casos de corrupção e falta de ética política no País, entre eles os que envolvem o presidente do Senado, Jáder Barbalho (PMDB-PA), acusado de desvios de verbas da Sudam, os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (sem-partido-DF), acusados de violar o painel do Senado. "Não posso pedir a cassação deles porque não tenho provas de seus crimes e não gosto de vingança", brincou Dom Chemello. "Mas a conclusão do que vejo e ouço aponta para a cassação. Se não houver punição para os que cometem crimes no Senado, também não se pode punir bandidos que roubam e estupram", acrescentou. Ele enfatizou que uma conclusão final sobre o assunto somente será divulgada depois da reunião de quinta-feira. A carta aberta divulgada hoje é também o relatório final da quinta edição da Assembléia Nacional dos Organismos do Povo de Deus, que reuniu de sábado a hoje aproximadamente 280 membros de seis organismos da igreja católica, representados por leigos, religiosos, membros dos Institutos Seculares, diáconos, padres e bispos. A mensagem, de uma página, foi dividida em três partes: indignação, solidariedade e compromisso. "A indignação é um sentimento que está no povo e esteve em nós durante o encontro", explicou Dom Chemello. De acordo com ele, o compromisso será o de trabalhar contra a corrupção. "Como indignar-se, ser solidário e não fazer nada? Por isso convocamos para a vigília cívica e cristã para o povo trabalhar contra o mal que esta aí", alegou. A escolha do dia 13 é emblemática, porque a vigília será feita no dia em que se comemora no Brasil a libertação dos escravos. A princípio, o documento elaborado em Itaici não será encaminhado a autoridades públicas. "Não adianta pedir para o traficante cuidar da droga", ironizou Dom Chemello, referindo-se ao fato de que o presidente do Senado é acusado de envolvimento em corrupção. Segundo ele, o principal objetivo é despertar no povo a consciência da responsabilidade cívica. O bispo reconheceu que se trata de um árduo trabalho. "Estamos criando um ambiente para que ocorra a conscientização. É preciso muito empenho", disse. Segundo Dom Chemello, os corruptos já compraram muitos eleitores e ainda se beneficiam disso. "É preciso criar consciência de vigilância. Quando o povo se move, há efeito. Se o guarda da casa não cuida dela, o dono deve cuidar e tomar uma providência, como trocar de guarda", comparou. Para o presidente da CNBB, não só os políticos devem ser responsabilizados por corrupção, mas todos os que os ajudam a praticá-la. Dom Chemello, no entanto, defendeu punição exemplar especialmente para os que têm autoridade. "Entre um juiz corrupto e um Zé Povinho é preciso punir com mais rigor o juiz, o que servirá de exemplo. Se o Zé Povinho vê o juiz absolvido, vai julgar que vale a pena ser corrupto", argumentou. Neoliberalismo - Além da corrupção, os participantes da Assembléia discutiram temas como globalização e neoliberalismo. "A exclusão social e a louvação do dinheiro característicos do neoliberalismo devem ser combatidas", alegou o padre Pedro Felix Bassini. Segundo ele, uma das piores conseqüências do neoliberalismo foi o desmantelamento de organizações sociais, como sindicatos. Mas ele disse que a igreja tem esperança de reconstituir as bases sociais. "A grande esperança para o novo milênio será ajeitarmos a sociedade", disse. Para Dom Chemello, um dos grandes desafios da igreja católica hoje é a quantidade crescente de novas seitas e igrejas no Brasil. "A igreja católica enfrentou bem a ciência e até o poder econômico. Nunca aceitou nem o comunismo e nem o capitalismo. Mas está estudando como tratar esse mundo com tanta igreja, com sentidos religiosos diferentes", apontou. Segundo o presidente da CNBB, o catolicismo se acertou com a ciência a partir do momento em que cientistas passaram a acreditar na fé. "Uma ou outra vez a igreja errou. Mas hoje a igreja católica e a ciência andam juntas porque há diálogo", explicou Chemello. "Hoje se admite análises científicas subjetivas", acrescentou Bassini. "A fé é reconhecida como instrumento até pelos cientistas", concluiu o presidente da CNBB.

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