Censura ao Estado mostra 'Brasil arcaico', diz sociólogo

Por Luciana Nunes Leal
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O sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), pesquisador, entre outros temas, de regimes ditatoriais, criticou os argumentos da defesa de Fernando Sarney de que o Estado publicou diálogos íntimos dos Sarney e que "em se tratando de família da mais alta notoriedade (...), os demais meios de comunicação deram especial atenção ao assunto, leiloando a honra, a intimidade, a privacidade, enfim, aviltando o direito de personalidade de toda a família Sarney". O Estado publicou uma série de conversas telefônicas gravadas com autorização judicial que tratam da nomeação de Henrique Dias Bernardes para uma vaga no Senado. Bernardes era namorado da neta de Sarney Maria Beatriz, filha de Fernando Sarney. "Se a consideração na direção da prevenção foi devida ao caráter notório da família, então ela representa o argumento arcaico de um país que o Brasil gostaria de deixar para trás", afirmou Gláucio. "O País com duas amplas experiências de censura, durante a ditadura Vargas e no regime militar, deve ser especialmente sensível à censura à mídia", destacou. O sociólogo também contesta a tese da violação de intimidade. "Não estamos falando de diálogos íntimos, mas sim de solicitações de cunho nepotístico onde se pretende que a pessoa obtenha um cargo não pelo mérito mas pela relação particular com uma pessoa notória e poderosa. É o Brasil arcaico que não acabou", disse o professor.

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