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Candidatos LGBT em busca de afirmação política

Entidade de lésbicas, gays, bissexuais e trans contabiliza quase 100 pré-candidatos ligados à causa; Congresso só tem um nome assumido

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Dos 513 deputados federais, apenas um é assumidamente homossexual. A baixa representatividade é sentida na timidez com que pautas como a criminalização da homofobia são discutidas e no atropelo que as demandas da comunidade gay sofrem na Casa pelas fortes bancadas conservadoras e religiosas.

Atenta a essa realidade, a Aliança Nacional LGBTI+ começou um mapeamento dos pré-candidatos assumidamente homossexuais e aliados. Até esta sexta-feira, 16, o levantamento apontava 93 nomes, divididos entre gays, mulheres e homens transexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e outros (entre esses, os aliados – que podem ser heterossexuais mas são considerados defensores da causa).

A advogada Giowana Cambrone, da Rede, é a primeira trans a ocupar cargo de direção em um partido no País Foto: AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO

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O partido com mais pré-candidatos com essas características é o PSOL (19), seguido pelo PCdoB (14) e o PT (11). Legendas consideradas de direita, como PSD, PTC e PTB também têm representantes. A divisão por região mostra que o Sudeste concentra quase metade desses nomes (40). A região com menos representantes é a Norte, com apenas três. 

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O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, afirma que o levantamento visa criar uma rede de trocas de ideias e propostas para eventuais mandatos – bem como ajudar na divulgação das próprias campanhas.

“Nossa esperança é aumentar a bancada na Câmara em pelo menos 100%”, diz Reis. “Parece muito, mas na verdade hoje só temos um deputado assumidamente gay, o Jean Wyllys (PSOL-RJ). Então, aumentar a bancada em 100% é sonhar com pelo menos dois eleitos.” 

O levantamento incluiu a pré-candidata à Presidência Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) na lista. “Ela entra como ‘outros’. Embora não seja gay, Manuela é uma aliada ‘plus’, alguém muito conectada com as nossas causas”, afirma. 

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Trans. A diversidade, no entanto, ainda não é uma realidade no comando dos partidos. Apenas Rede e o PSB têm transexuais em suas executivas, embora boa parte das siglas tenha setores dedicados ao tema em suas estruturas internas. A advogada Giowana Cambrone foi a primeira trans em um cargo de direção. Ela, que é da Rede Sustentabilidade e do Raps, movimento de renovação política, estuda a possibilidade de se candidatar a deputada federal.

Para Giowana, a Câmara é especialmente conservadora. “Nossos principais avanços nas questões de gênero foram conquistados por meio do Judiciário e não por leis aprovadas no Congresso”, afirma. A última vitória do movimento foi no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que autorizou que candidatos trans sejam registrados na cota dos partidos pelo gênero com o qual se identificam. “O processo é lento, mas aos poucos estamos ocupando espaços de decisão”, diz a dirigente da Rede. 

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Tathiane Araújo, a primeira mulher trans a fazer parte do comando do PSB, pretende trabalhar o tema da criminalização da homofobia como prioridade no Congresso. “A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece”, afirma Tathiane. 

Parada. O ano eleitoral também vai se refletir na tradicional Parada do Orgulho LGBTI+, que ocorre no dia 3 de junho, em São Paulo. O tema do evento neste ano é: Poder para LGBTI+: Nosso Voto, Nossa Voz.

“Somos sub-representados na política nacional. Por isso, esse é o momento de continuar mostrando que não é apenas uma festa”, diz a presidente da ONG APOGLBT SP, organizadora da Parada, Claudia Regina.

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A presidente da ONG afirma que a politização da Parada não é partidária. Segundo Claudia, representantes de todos os partidos que estiverem comprometidos com as causas são bem-vindos para participar.