Brizola elogia Covas e critica FHC em velório

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do PDT Leonel Brizola esteve durante o final da noite desta terça-feira no Palácio dos Bandeirantes, para deixar seu apoio à família do governador de São Paulo Mário Covas. Em entrevista à imprensa, ele não poupou elogios a Covas, mas aproveitou para criticar o presidente Fernando Henrique Cardoso, que além de pertencer ao mesmo partido de Covas, o PSDB, é amigo pessoal do governador, morto às 5h30 desta terça, vítima de um câncer que provocou falência múltipla de órgãos. "Por mim, Covas teria tido a presidência da República em 1989", disse Brizola. Segundo o ex governador do Rio de Janeiro, foi feita uma proposta ao então candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, para abrir mão de sua candidatura na chegada ao segundo turno em favor do nome de Covas. "O Lula era o primeiro, eu era o segundo, o Covas era o terceiro no resultado do primeiro turno. Eu fiz a proposta pois, o mais preparado de nós, e viável para vencer o Fernando Collor, era o Covas", contou. Brizola disse que a idéia não foi aceita e entendeu as dificuldades que Lula e o PT teriam para desistir de disputar o segundo turno, passando a vez para Covas. "Esse episódio serviu para mostrar que o nosso apreço ao governador Covas vem de longe. Nós não convivíamos mais intimamente no campo político nesses últimos tempos em função da separação que o governo Fernando Henrique nos trouxe", afirmou Brizola. Segundo ele, quando o presidente apontou em discurso que sua missão era acabar com a Era Vargas, o partido, que foi criado pelo presidente Getúlio Vargas, ficou chocado e se distanciou do PSDB. "Não fizemos coligação ou acordo com o PSDB em todo o País", comentou. Distanciamento - No entanto, logo em seguida, Brizola afirmou que apoiou Covas no governo em São Paulo. Ao mencionar o último encontro que teve com o governador paulista, em um hotel em Brasília, ele explicou que o momento foi de grande cordialidade, mas depois houve um distanciamento provocado pelas circunstâncias políticas e porque Brizola não queria constranger Covas. "Nós sempre assumimos uma linha de apoio ao Covas em São Paulo, tivemos oportunidade de apoiá-lo oficialmente, e no entanto nada reivindicamos em matéria de composição de governo", destacou. Brizola disse que seu apreço por Covas continuou, apesar do distanciamento. "Ele não se encontrava, na sua plenitude, satisfeito com a situação, tanto que com sua responsabilidade de governar o maior Estado da Federação, procurou não criar dificuldades, tratou de governar seu Estado, o que acho que foi uma orientação correta", afirmou. "Mas, se dependesse do Covas, tenho certeza que, pela sua mentalidade progressista, pela sua natureza de homem público íntegro, austero, nacionalista, como demonstrou na Constituinte, os rumos seriam outros", completou. "O nosso País não estaria vivendo as dificuldades que está", disse, numa crítica direta ao presidente da República. Comentando a franqueza de Covas, que chegou a divergir publicamente de Fernando Henrique Cardoso, Brizola lembrou que graças a ele FHC se tornou presidente do País. ?Fernando Henrique só não foi ministro das Relações Exteriores do Collor porque o Covas se opôs. Mas às vezes eu penso: quem sabe lá não teria sido melhor, porque ele tendo sido ministro de Collor, evidentemente não teria nos ensejado todo esse período que estamos vivendo?, disse ele, ao criticar novamente o presidente. Brizola comentou também que essa é uma perda "irreparável" e que Covas fará muita falta, servindo de exemplo para as futuras gerações. O presidente do PDT salientou a honestidade e simpatia pessoal de Covas. "Ele até gostava de permear as suas decisões, mesmo as mais duras, com uma boa piada, o que se tornou uma de suas características." Ele citou pessoas que considera grandes nomes que entraram para a história do Brasil como exemplos, como o próprio presidente Getúlio Vargas e o presidente João Goulart, derrubado pelo golpe de 64 que de início à ditadura militar. ?Covas irá integrar essa galeria?, afirmou. Brizola não soube dizer quem seria um novo nome em São Paulo para ocupar a posição de liderança de Covas. Sobre o governador Geraldo Alckmin, disse apenas que o encontrou uma única vez, e teve excelente impressão, destacando que Alckmin é um quadro político de primeira grandeza. Brizola afirma que não será candidato em 2002 Brizola afirmou que ainda é cedo para avaliar o impacto da perda de Covas na sucessão para 2002, mas pretende atuar para formar uma unidade progressista que seja capaz de construir uma base majoritária no Congresso. ?Caso contrário, vamos cair nessa mesma politicagem que está aí. A política brasileira está muito pobre, medíocre?, disse. Ele afirmou que ainda não escolheu seu candidato para 2002. ?Quem tem? O ACM (Antônio Carlos Magalhães, senador do PFL-BA) tem??, mencionou. O presidente do PDT descartou sua candidatura à presidência. ?Já tive meu quarto de hora. Às vezes, penso, quem sabe mais uns três minutos, mas nem isso vou ter?, disse. Apesar de falar que não tem candidatos, ele citou os nomes de Itamar Franco, Ciro Gomes e de Lula como viáveis e passíveis de apoio por parte do PDT. ?O Lula tem muita dificuldade, tem um teto. Há muito preconceito, resistência em relação a ele, como é o meu caso?, lembrou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.