Brasil, Turquia e Irã se reúnem na segunda para tentar acordo nuclear

Itamaraty afirma que perspectivas 'são boas', mas não houve comentários oficiais sobre proposta.

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Por Fabrícia Peixoto e Tariq Saleh
Atualização:

Os líderes de Brasil, Turquia e Irã programaram para a manhã desta segunda-feira, em Teerã, mais uma rodada de negociações para tentar chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano, de acordo com informações do Itamaraty. O encontro vai ser reforçado pela presença do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que segundo a imprensa turca, teria antecipado a viagem ao Irã depois de receber uma ligação de sua delegação no país. A expectativa era de que um novo entendimento com os iranianos fosse anunciado ainda no domingo, mas o assunto não foi comentado - nem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tampouco pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, durante o encontro bilateral. Mesmo assim, um representante da diplomacia brasileira disse à BBC Brasil que as expectativas para o encontro desta segunda-feira "são boas", sobretudo com a expectativa de presença de Erdogan. Mudança Inicialmente, Erdogan era esperado para um encontro trilateral com Lula e Ahmadinejad neste domingo, mas acabou desistindo da viagem sob o argumento de que a o Irã não estaria "comprometido" com o acordo proposto. No entanto, o diário Hürriyet disse que Erdogan teria mudado de ideia depois de receber uma ligação de sua delegação em Teerã, chefiada pelo ministro de Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu. Ainda segundo a imprensa turca, ele então teria cancelado na última hora uma viagem ao Azerbaijão. A decisão, de acordo com o diário Zaman, poderia indicar que algum acordo foi atingido. Segundo o jornal, se for anunciado um acordo com o governo iraniano, Turquia e Brasil sairão vitoriosos, com suas diplomacias prestigiadas no cenário internacional. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, participou de reuniões durante o dia inteiro em Teerã. Em entrevista ao jornal americano Washington Post, Amorim disse que a negociação é "complexa". Agradecimento Em uma nota divulgada no domingo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, agradeceu aos governos de Brasil, Síria e Senegal por seus esforços em prol da libertação da professora francesa Clotilde Reiss, que estava presa em Teerã desde o ano passado. Reiss havia sido condenada em julho do ano passado por dez anos de prisão por espionagem e por ter enviado fotografias por e-mail mostrando protestos contra o governo iraniano. O anúncio da libertação foi feito neste sábado, dia da chegada do presidente Lula a Teerã. Segundo fontes da diplomacia brasileira, o presidente Ahmadinejad teria dito a Lula que a libertação da professora francesa foi um "presente" do governo iraniano ao presidente brasileiro. Brasil e Turquia são membros não-permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) e querem evitar que o Irã seja alvo de sanções internacionais. Alguns integrantes do Conselho - principalmente os Estados Unidos - desconfiam das intenções do programa nuclear iraniano. O Irã afirma que ele tem fins pacíficos, e que o país não pretende desenvolver armas nucleares. A solução apresentada por Brasil e Turquia teria como base a proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), do final do ano passado, que prevê o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar. O Irã já havia rejeitado uma proposta da ONU de enriquecer seu urânio no exterior. O novo acordo poderia colocar a Turquia como destino do material iraniano para que fosse feita a troca. Erdogan, segundo a agência estatal de notícias Anatolia News, também disse que achava importante sua presença em Teerã para no caso de que as trocas de material fossem confirmadas na Turquia. "Nós tivemos conversas de alto nível em Teerã. Nós chegaremos à oportunidade de iniciarmos o processo de trocas", disse o primeiro-ministro turco em uma conferência, de acordo com a agência estatal. No domingo, Lula se encontrou com o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, e com o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad. Após o encontro, nenhum dos líderes falou sobre a negociação nuclear. A agência oficial iraniana IRNA noticiou que Khamenei elogiou o Brasil. Segundo a agência de notícias AFP, Ahmadinejad também fez elogios ao Brasil. Lula e Ahmadinejad discursaram em um evento para empresários dos dois países, mas nenhum dos dois mencionou a questão nuclear. Impasse nuclear Lula foi ao Irã para apresentar uma proposta do Brasil e da Turquia para evitar que o Irã seja alvo de sanções internacionais. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, também deveria participar da reunião em Teerã, mas desistiu de viajar. Ele disse que o Irã não está comprometido com o acordo proposto. No seu lugar, a Turquia enviou o ministro de Relações Exteriores do país, Ahmet Davutoglu. O Conselho de Segurança da ONU pretende adotar novas sanções contra o Irã, já que alguns integrantes do Conselho - como os Estados Unidos - desconfiam das intenções do governo de Teerã quanto ao seu programa nuclear. O governo iraniano sustenta que seu programa nuclear tem fins pacíficos, e que o país não pretende desenvolver armas nucleares. O Brasil e a Turquia elaboraram um plano que foi levado por Lula a Ahmadinejad. Na sexta-feira, em encontro com Lula em Moscou, o presidente russo, Dmitri Medvedev, disse que a proposta do Brasil e da Turquia seria a última chance do Irã de evitar as sanções da ONU. A base da proposta turca e brasileira continuaria sendo o plano da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), do final do ano passado, que prevê o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar. Na segunda-feira, o presidente participa de uma reunião do G15, um grupo de cooperação entre países em desenvolvimento não-alinhados. Além de Brasil e Irã, participam do G15 Argélia, Argentina, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Jamaica, Malásia, México, Nigéria, Quênia, Senegal, Sri Lanka, Venezuela e Zimbábue. Antes de embarcar para o Irã, em Doha, no Catar, Lula disse não entender o ceticismo da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre a possibilidade de o Irã mudar sua postura sobre o seu programa nuclear através do diálogo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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