Bastidores: 'Temos de nos preparar para a guerra política', afirma Dirceu

Em café da manhã com filhos e amigo, ex-ministro afirma que PT precisa atrair a juventude e movimentos sociais

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Por Vera Rosa
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BRASÍLIA - Menos de 24 horas após deixar a Justiça Federal, em Curitiba, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu não resistiu. No café da manhã com os filhos Joana e Zeca Dirceu, deputado, e com o amigo Breno Altman, Dirceu falou muito sobre o PT, o governo Temer, o ex-presidente Lula e o PSDB. “Temos de nos preparar para a guerra política”, avisou ele.

O ex-ministro José Dirceu com o jornalista Breno Altman em perfil de rede social Foto: Reprodução Facebook de Breno Altman

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O reencontro em liberdade foi em São Paulo, na casa de Joana. Bem mais magro e exibindo uma tornozeleira eletrônica, Dirceu parecia mais interessado em aproveitar as delícias do café, com queijo de Minas, pães, bolos, frutas e sucos, do que em comentar o seu processo. Não reclamou nem mesmo da tornozeleira, dizendo já ter se acostumado com ela.

Apesar de quase não ter dormido na madrugada desta quinta-feira, 4, o ex-ministro não demonstrou abatimento. Afirmou, porém, que sentia muita falta da filha de 5 anos, Maria Antônia - que mora em Brasília com a mãe, Simone, e não via a hora de abraçá-la. Dirigentes do PT disseram ao Estado que a menina é muito agarrada com Dirceu e sempre achou que o Complexo Penal de Curitiba - onde ele ficou preso durante 1 ano e 9 meses - era uma escola em que o pai dava aulas.

Ex-presidente do PT, Dirceu afirmou que o partido precisa mudar rapidamente, atrair a juventude e os movimentos sociais, apresentar um novo projeto e ir para o “enfrentamento”contra o presidente Michel Temer e o PSDB, na tentativa de eleger Lula ao Palácio do Planalto. A exemplo de Dirceu, o ex-presidente é réu da Lava Jato.

Criador da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, que conduziu com mão de ferro até o início dos anos 2000, o ex-ministro faz hoje severas críticas à “criatura”. Na sua avaliação, o grupo se burocratizou na estrutura de poder partidário e necessita de outro programa.

Antes da parada em São Paulo, de onde seguiu para Brasília, Dirceu passou na casa do advogado Daniel Godoy, em Curitiba. Acompanhado do criminalista Roberto Podval, responsável por sua defesa, e dos advogados Camillo Filho e Marcelo Muzeka, ele conversou com amigos de longa data, como o ex-deputado petista Angelo Vanhoni.

“Não teve uísque nem pizza. Ele passou ali porque era hora do rush na cidade e não queria enfrentar trânsito. Foi uma conversa entre amigos”, contou um dos presentes ao encontro na capital paranaense.

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Na casa de Godoy, Dirceu recebeu várias ligações e também fez telefonemas. Um deles foi para Maria Antônia, a filha caçula, e para a mulher. Outro, para cumprimentar José Genoino, o ex-presidente do PT que nesta quarta-feira completou 71 anos, a mesma idade dele. Genoino chegou a ser condenado no processo do mensalão, foi preso como Dirceu, mas teve sua pena extinta pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao discorrer sobre o que chama de “fracasso do governo Temer”, o ex-ministro disse que a “direita” rompeu o pacto constitucional de 1988 que permitiu a redemocratização do País. “Deram o golpe para impedir Lula de ser candidato”, insistiu ele.

Condenado a 32 anos e um mês de prisão, em duas ações penais da Lava Jato, o ex-ministro ganhou habeas corpus do Supremo na quarta-feira, 3. Tinha acabado de fazer uma série de exercícios quando recebeu a notícia. Dirceu disse ter sido bem tratado na cadeia e revelou o medo - praticamente uma certeza - de não ficar muito tempo em liberdade. Foi o único momento em que pareceu se emocionar.