Bastidores: No último dia, isolamento e barreira policial

O isolamento, uma constante no mandato de cinco anos e quatro meses de Dilma, foi uma marca dos momentos vividos por ela no Alvorada antes da decisão do Senado

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Foto do author Leonencio Nossa
Por Tania Monteiro e Leonencio Nossa
Atualização:

Dilma Rousseff viveu na manhã de ontem momentos tensos no trajeto entre os Palácios da Alvorada e do Planalto, onde assinaria a notificação de seu afastamento da presidência. Às 9h40, ela deixou a residência oficial do Alvorada acompanhada de seguranças num comboio de cinco carros. Na altura de um viaduto que dava acesso ao Eixo Monumental e à Praça dos Três Poderes – área do Planalto fechada para o trânsito desde anteontem –, a comitiva foi parada numa barreira policial. Guardas mandaram o grupo seguir por outra via que levaria aos fundos do palácio.

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“Aqui ninguém passa”, disse em tom elevado um dos guardas da Polícia Militar do Distrito Federal na barreira, diante dos motoristas do comboio presidencial. Mesmo informado de que a presidente estava num dos carros, o PM não recuou. Houve incredulidade e bate-boca. Um motorista relatou à reportagem que percebeu espanto, irritação e depois tristeza por parte da presidente. Sandra Brandão, assessora especial de Dilma, que estava no Planalto, foi acionada por um dos homens da comitiva. Ela telefonou para a segurança do governo: “Isso é uma ordem, a presidente vai passar, sim”.

Dentro do carro, parada na barreira, Dilma demonstrou, agora, nervosismo. O comboio, então, recuou dando voltas pela Vila Planalto, um bairro entre o Alvorada e o Planalto, até que recebesse autorização. Após, dez minutos, os motoristas do comboio foram avisados de que estavam “autorizados” a passar. Dilma ainda estava no exercício da presidência. Os motoristas aceleraram e entraram a pelo menos 140 km/h pelo Eixo Monumental. Dilma chegou ao palácio às 10h20, atrasada para receber a notificação.

O ex-presidente Lula e a presidente afastada Dilma Rousseff Foto: Ueslei Marcelino|Reuters

O isolamento, uma constante no mandato de cinco anos e quatro meses de Dilma, foi uma marca dos momentos vividos por ela no Alvorada antes da decisão do Senado, que aprovou no início da manhã a admissibilidade do processo de impeachment. Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), abriu a votação, por volta de 6h30 e logo depois apresentou o resultado, a área ao redor da residência oficial da Presidência estava em silêncio e sem movimentação.

Dentro do Alvorada, Dilma só contava com a presença da mãe, dona Dilma Jane, de 92 anos, que enfrenta problemas de saúde. Paula, a filha única de Dilma e os netos da presidente, Gabriel, de seis anos, e Guilherme, de quatro meses, ficaram em Porto Alegre. Alguns minutos depois do anúncio do afastamento da presidente, começou um barulho de fogos de artifício na região do Lago Sul e Lago Norte, bairros de classe alta da capital, nas margens do Lago Paranoá. A segurança tinha sido informada desde a véspera que Dilma não iria fazer a habitual pedalada.

Desde as 5h30 até a votação do impeachment, nenhum carro de autoridade entrou ou saiu do Alvorada. Depois, por volta das 9h, a presidente recebeu a visita de Nilma Lino Gomes, ministra de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Naquele momento, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente e agora presidente interino Michel Temer, a um quilômetro do Alvorada, também não havia movimentação. Temer deu ordens para que a segurança só liberasse a entrada de parlamentares às 9h.