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Base governista no Senado se cala sobre prisão de Cunha

Nos bastidores, avaliam que haverá revés na aprovação dos ajustes no Congresso, se deputado cassado fechar acordo de delação premiada

Por Ricardo Brito e Isabela Bonfim
Atualização:

BRASÍLIA - A base do presidente Michel Temer no Senado preferiu optar pelo silêncio e se esquivar de comentar publicamente a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nesta quarta-feira, 19, mas avaliação reservada é que o governo poderá sofrer um revés na agenda econômica dele no Congresso caso o deputado cassado faça uma delação premiada e implique integrantes do Executivo e do Legislativo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e senadores aliados - muitos dos quais investigados na Operação Lava Jato - tentaram aparentar ao longo do dia um ar de normalidade nos trabalhos. O peemedebista conduziu a sessão do plenário que aprovou uma medida provisória que facilita a realização de privatizações no setor elétrico e ainda liderou as articulações para fechar um calendário de votações da PEC do Teto do Gastos quando chegar ao Senado. Toda vez que deixava o comando dos trabalhos do plenário, Renan - alvo de quase 10 inquéritos na Lava Jato - foi questionado sobre a prisão de Cunha, de quem é desafeto no PMDB. Esquivou-se em todas elas com respostas evasivas. "O que importa saber o que eu acho?", respondeu a um questionamento de jornalistas com uma pergunta. "Não sou o especialista em Eduardo Cunha", disse, em outra ocasião. A ação de Renan se assemelha ao comportamento que ele teve no início do ano quando era um entusiasta do governo Dilma Rousseff e se valeu das pautas econômicas como biombo para não ter que responder denúncias que o envolviam. O fato é que, nos bastidores, a aposta de aliados de Temer no Senado é que uma eventual delação do ex-presidente da Câmara possa atingir, ao menos, ministros do Palácio do Planalto e a base que apoiava Cunha, em particular o chamado Centrão. No Senado, a expectativa é que não haja qualquer implicação de eventuais acusações do deputado cassado, uma vez ele não é próximo a senadores do partido. Isso poderá indiretamente atrapalhar a agenda do governo. "Ninguém mais fica preso no País, só existe delator", disse um senador da cúpula do PMDB, sob a condição do anonimato. "É imprevisível o que Cunha vai fazer depois de tudo o que ele fez, se vai se fechar em copas ou se vai abrir a boca", avaliou um senador tucano, que ressalvou não apostar que o ex-presidente da Câmara possa atingir diretamente Temer. Publicamente, as principais lideranças de partidos da base no Senado evitaram se manifestar sobre a prisão de Cunha. No plenário, somente o líder da oposição no Senado, o também investigado na Lava Jato Lindbergh Farias (PT-RJ), e o senador peemedebista Roberto Requião (PR), que é crítico do governo Michel Temer, levantaram a hipótese de Cunha fazer uma delação premiada após a prisão. "Sinceramente, espero que ele faça uma delação, porque, se ele fizer uma delação, esse governo do Temer não se sustenta por um dia. Nós sabemos da ligação de Eduardo Cunha com Michel Temer", disse Lindbergh Farias. "Há poucos instantes foi preso o deputado Eduardo Cunha, e a sociedade brasileira aguarda com muita atenção uma fantástica delação premiada", provocou Requião. O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), deu uma rápida entrevista em que declarou que o partido vai aguardar uma decisão judicial. "O PMDB não vai tomar qualquer posição, não vamos tratar disso. Ele está sendo investigado e tem que ser respeitado o direito de ampla defesa", disse Jucá. O estatuto do PMDB prevê que um integrante do partido só será expulso em caso de condenação irrecorrível. Lula. Outro efeito da prisão de Cunha é que cresce a impressão entre aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a Lava Jato pode, sim, prendê-lo com o avanço das investigações. A avaliação de um petista e de um peemedebista do Senado é que a operação não teria freios, o que poderá acarretar na detenção do ex-presidente. Há quem defenda a votação do projeto de abuso de autoridade - uma das bandeiras de Renan Calheiros à frente do Senado - para tentar inibir a investigação.