Banco suíço citado na Lava Jato vai pagar R$ 2 bi por evasão fiscal

Julius Baer foi usado por Eduardo Cunha e outros suspeitos

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Por Jamil Chade - Correspondente em Genebra
Atualização:

GENEBRA – O banco suíço Julius Baer, usado pelo deputado Eduardo Cunha e uma das principais instituições financeiras citadas em acordos de delação premiada na Operação Lava Jato, anuncia que vai pagar US$ 547 milhões(R$ 2,1 bilhões) como parte de um entendimento com a Justiça americana. A instituição financeira suíça estava sob investigação criminal desde 2011 por ajudar centenas de clientes americanos a evadir o fisco nos EUA. 

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No Brasil, o banco é citado em diversas suspeitas sobre depósitos de propinas e hoje tem diversas contas bloqueadas. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, mantém contas no valor de US$ 2,4 milhões. Ele nega. Mas seus advogados entraram na Justiça na Suíça para impedir que os extratos sobre suas movimentações fossem enviadas ao Brasil. Eles foram derrotados.

Quem também era cliente do Julius Baer era o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco. Em março de 2014, suas contas foram bloqueadas. Barusco, assim como Cunha, criou empresas off shore para tentar esconder o dinheiro. Em 2013, Barusco abriu uma conta em nome de uma empresa de fachada, a Canyon Biew, no banco RBC da Suíça e transferiu do Julius Baer cerca de US$ 7,1 milhões.

Banco é citado em diversas suspeitas sobre depósitos de propinas e tem diversas contas bloqueadas Foto: Divulgação

Barusco ainda indicou que, para a abertura das contas na Suíça, utilizou os serviços do mesmo intermediário que ajudou Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás e que tem US$ 23 milhões bloqueados nos bancos suíços. O intermediário era Bernardo Friburghaus, com escritórios no Rio de Janeiro e que desde a eclosão da operação se mudou para Genebra.

Os ex-diretores da petroleira Renato Duque e Jorge Zelada também contrataram o banco Julius Baer para investir propina recebida de fornecedores da Petrobrás em Mônaco e na Suíça.    Em Berna, fontes confirmam que o banco Julius Baer está colaborando e que foi do banco que veio em abril um informe apontando para suspeitas de lavagem de dinheiro sobre Cunha. Oficialmente, a instituição se recusa a comentar o caso indicando em um email à reportagem que não falará sobre o assunto. 

Nos EUA, porém, o banco é uma das instituições financeiras suíças processadas por ajudar clientes americanos a retirar dinheiro do país e abrir contas secretas em Genebra ou Zurique. O banco, para evitar multas ainda maiores, anunciou que chegou a um "acordo de princípios" com a Procuradoria-Geral de Nova Iorque e que isso envolve uma "solução compreensível" do caso. 

O acordo ainda precisa ser aprovado pelo Departamento de Justiça, o que deve ocorrer no primeiro trimestre de 2016. Segundo o banco, um total de US$ 547 milhões foram reservados para arcar com esse custo do acordo, o equivalente a todo o lucro do banco em 2014. 

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Mesmo com o pagamento, o banco indicou em uma nota hoje que ainda deve registrar lucros líquidos para 2015. O Julius Baer também garante que vai "continuar adequadamente capitalizado", acima inclusive dos patamares mínimos exigidos por lei. O banco ainda insiste que "continua comprometido em cooperar de forma pró-ativa com as investigações do Departamento de Justiça (dos EUA)".  

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