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Associações no interior de SP estimulam ‘voto distrital’ para eleger deputados

Empresários de Franca e Barretos criam campanhas para fortalecer candidatos da região; outras cidades estudam como implantar proposta

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:

Enquanto o Congresso anda em círculos em torno da reforma política, setores organizados da sociedade civil tentam colocar em prática, por conta própria, o voto distrital em cidades do interior paulista. As associações comerciais e industriais de Franca e Barretos preparam campanhas publicitárias para convencer os eleitores a votar apenas em candidatos locais a deputado estadual e federal nas eleições de outubro. Outras cidades avaliam como aderir à ideia.

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A iniciativa, batizada “Voto Nosso”, apareceu pela primeira vez em 2002 nas 14 cidades da região administrativa de Franca, mas seus resultados práticos só apareceram oito anos depois, em 2010. A região, de aproximadamente 320 mil eleitores, tinha apenas um deputado estadual e hoje conta com dois deputados estaduais e um federal.

Um dos idealizadores da campanha foi Onofre Trajano, diretor da rede Magazine Luiza, irmão da empresária Luiza Trajano – na época, dirigente da Associação Comercial e Industrial de Franca. Preocupados com a falta de representatividade da cidade na Assembleia Legislativa de São Paulo, os comerciantes de Franca organizaram uma campanha em outdoors, panfletos, adesivos e esquetes de rádio para estimular a população a votar em candidatos locais.

Em 2002 a região de Franca teve sete candidatos a deputado federal e nove a deputado estadual. O número levou a Acif a uma encruzilhada: como evitar uma nova pulverização de votos sem ferir a liberdade de escolha dos eleitores? A saída foi contratar um instituto independente e fazer duas pesquisas de opinião. A primeira alguns meses antes e a segunda às vésperas das eleições. “Não falamos em nomes e nem podemos falar mas as pesquisas induzem a votação nos candidatos que estão no topo das pesquisas. É praticamente um voto distrital”, disse João Carlos Cheade, vice-presidente da Acif e um dos criadores do “Voto Nosso”.

De acordo com ele, um dos objetivos é expandir a campanha para outras cidades e aumentar a presença do interior no Legislativo estadual. O número de deputados estaduais com base apenas em cidades do interior caiu de 42 em 2006 para 36 na atual legislatura. Para impedir o que chama de “desinteriorização” da Alesp, as lideranças do interior têm o apoio da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).

“Temos 420 associações em nosso quadro e este processo está ficando maduro no Estado”, afirmou o presidente da Facesp, Rogério Amato.

A primeira cidade a copiar a iniciativa foi Barretos, mas cidades como Votuporanga, Rio Preto e Presidente Prudente já se interessaram por ela. “Com eles, Barretos fala mais alto. Sem eles, Barretos perde a voz. Vote nos candidatos de Barretos”, diz uma das peças já prontas. Com menos de 80 mil eleitores, Barretos nunca elegeu um deputado e vai precisar se aliar a outras cidades da região para viabilizar a campanha.

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“Já estamos em contato com cidades vizinhas. O mais importante agora é garantir a representação na Alesp”, disse Geovani Barroti, dirigente da Associação Comercial Industrial de Barretos (Acib). Ele acrescenta: “Com o deputado morando aqui na cidade posso bater na porta da casa dele se for o caso”.

Eleito suplente em 2010, o deputado federal Marco Aurélio Ubiali (PSB-SP) assumiu uma cadeira na Câmara em 2012 e admite que só conseguiu chegar ao parlamento graças à campanha “Voto Nosso” de Franca. No entanto, ele aponta um risco: “A campanha praticamente impede a entrada de candidatos de fora. Se der certo, tudo bem. Se der errado a cidade passa quatro anos sem representante”.

Segundo Ubiali, depois de três eleições com o “Voto Nosso” os candidatos de outras cidades praticamente desistiram de fazer campanha em Franca. “Depois de três anos a população entendeu a ideia”, disse ele.

O deputado estadual Roberto Engler (PSDB), também de Franca, já exercia mandato na Alesp antes da primeira edição do “Voto Nosso”. Embora tenha recebido dos eleitores da cidade 51 mil dos 95 mil votos que o elegeram em 2010, Engler diz que a campanha não é garantia de vitória. O deputado teve votos em outras 50 cidades. Para ele, a estratégia é diferente do voto distrital. “No máximo, voto local”, afirmou.

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