Assessor da Presidência era lobista de esquema que 'lavou' R$ 300 mi, diz PF

Idaílson Vilas Boas, auxiliar da ministra Ideli Salvatti, recebeu suspeitos de envolvimento com organização criminosa dentro do Planalto

Por Ampliado às 17h07
Atualização:

A Polícia Federal acusa um assessor da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC), de envolvimento com a quadrilha suspeita de pagar propina a prefeitos para direcionar investimentos de fundos de pensão municipais. Relatório de inteligência da Operação Miqueias, ao qual o Estado teve acesso, diz que Idaílson José Vilas Boas Macedo atuava como lobista do esquema, tendo feito negociações dentro do Palácio do Planalto.

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Ele é filiado desde 1999 ao PT de Goiás e foi nomeado em 25 de março do ano passado, com salário bruto de R$ 9,6 mil, assessor especial na Secretaria das Relações Institucionais (SRI), pasta vinculada à Presidência da República. A nomeação foi assinada pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR) - o preenchimento dos cargos de confiança mais altos precisam do aval dela.

Segundo as investigações da Operação Miqueias, deflagrada nesta quinta-feira, 19, Idaílson intermediava negociações entre prefeitos e um "pastinha", como são chamados os aliciadores do esquema.

A PF pediu a prisão do assessor de Ideli, além do bloqueio de suas contas bancárias e de buscas em sua casa. O pedido de prisão foi negado pela Justiça. Ele é acusado de tráfico de influência e formação de quadrilha.

Procurada nesta tarde, a SRI informou que ainda não se pronunciaria sobre o caso. O Estado não localizou os advogados do assessor e deixou recado no seu local de trabalho, no Planalto. Na pasta, a informação é de que ele estaria em uma "reunião fora".

Para a PF, que flagrou transações de Idaílson em grampos, há uma "intrínseca" relação entre ele e a organização criminosa. O assessor teria atuado, por exemplo, para facilitar o acesso do "pastinha" Almir Bento aos prefeitos de Itaberaí (GO) e Pires do Rio (GO).

Numa das ligações interceptadas, o pastinha Almir Bento marca encontro entre Idaílson e o prefeito de Pires do Rio (GO) dentro do Planalto, orientando-o a falar apenas de "assuntos técnicos". "Fala de projetos, essas coisas", afirmou Bento, segundo transcrição da PF.

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O inquérito diz ainda que o aliciador se apresentava como integrante da Casa Civil, supostamente a pedido do assessor palaciano. "Os diálogos interceptados não deixam dúvidas de que Idaílson atuava em favor da organização criminosa em comento, intermediando encontros entre prefeitos - especialmente dos municípios de Pires do Rio e Itaberaí, ambos localizados no estado de Goiás -, e a organização criminosa em comento", sustenta a PF.

Com trânsito no Planalto, Idaílson integrou comitiva da presidente Dilma Rousseff em viagem a Salvador, neste ano, segundo o inquérito.

Abaixo, trechos do diálogo:

Prefeito - Almir!

Almir - Oi!

Prefeito - Você me ligou?

Almir - Liguei. Agora para você ir lá não dá não né?

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Prefeito - No Idaílson?

Almir - É!

Prefeito - Um minutinho por favor.

[ouve-se o prefeito perguntar: Quer ir lá no Idaílson agora? Uma voz de mulher pergunta: ele vai atender nós agora? O prefeito volta a falar com Almir]

Prefeito - Ele vai atender nós, assim, agora ô...

Almir - Agora. Agora.

Prefeito - Vai. Então vamos lá.

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Almir - Você sabe cheg...

Prefeito - Mas você vai lá comigo ou você quer que eu vou lá?

Almir - Dá um pulinho lá. Sabe chegar lá?

Prefeito - Onde que é mesmo lá ô, irmão? Deixa eu pegar o endereço aqui.

Almir - é lá no Palácio, na SRI.

Prefeito - E lá não tá tendo greve não? Manifestação?

Almir - Tá não. Tá não. Eu vou te mandar o endereço certinho agora.

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Prefeito - Pode falar.

Almir - Tá bom?

Prefeito - Ah, você manda por mensagem?

Almir - Vou te mandar por mensagem. Pode ir lá, para lá.

Prefeito - Então tá bom. Falou.

Segundo diálogo

Prefeito - Oi, Almir.

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Almir - Ai lá, o sr. trata só assuntos técnicos, tá?

Prefeito - Como é que é?

Almir - Só assuntos técnicos lá.

Prefeito - Ah, então tá bom. Beleza.

Almir - Fala de projetos, essas coisas.

Prefeito - Então tá bom então, viu!

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