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Área reivindicada está em estudo pela Funai

Região do rio Jatobá não tem laudo antropológico, mas base para retomada está em suposta transferência ‘compelida’ para o Xingu

Por Roberto Almeida
Atualização:

SÃO PAULO - A investida dos Ikpeng na área do rio Jatobá esbarra na falta de um laudo antropológico definitivo para embasar a demarcação. O processo se arrasta, via portaria 1.440 da Funai, desde 2006. O Grupo de Trabalho de Identificação em andamento não entregou a documentação necessária. Não há levantamento fundiário da região reivindicada.

 

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Enquanto isso, expedições à área do Jatobá tiveram apoio do Ministério do Meio Ambiente, via Programa de Apoio ao Agro-Extrativismo da Amazônia. A primeira - que Araka Ikpeng acompanhou - foi realizada em setembro de 2002. O projeto foi acompanhado pelo engenheiro florestal Marcus Schmidt, hoje assessor técnico da Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng.

 

A partir das explorações, David Rodgers, antropólogo-coordenador do grupo de trabalho, realizou um laudo preliminar ao qual o Estado teve acesso. A base para a retomada do território, segundo o texto, são elementos de flora e fauna só encontrados na região.

 

Segundo Rodgers, há quatro itens considerados essenciais para a cultura Ikpeng. O morit, uma espécie de taquara usada para cortar cabelo em cerimônias; o ragop, uma planta usada como medicamento; o próprio ikpeng, ou marimbondo, usado em rituais de iniciação; e o rapiu, uma concha de caramujo usada para adereços.

 

O antropólogo considera ainda "conceitos cosmológicos" dos Ikpeng para a retomada da área. Alega, em seu material, que durante a permanência do grupo no Jatobá ocorreram diversos funerais, além da "disposição da placenta e do cordão umbilical" - elementos considerados fundamentais para a noção de território dos indígenas.

 

O argumento jurídico e fundiário encontrado por Rodgers é a transferência "compelida" dos Ikpeng para o Parque do Xingu. "As autoridades públicas foram responsáveis por falhar na proteção dos Ikpeng, enquanto população indígena, das invasões ao seu território e, consequentemente, com relação à possibilidade de danos físicos adicionais infligidos pela população não-indígena que avançava na região", afirma, no documento.

 

De acordo com a Funai, o relatório definitivo sobre o Jatobá, que está em elaboração, ainda terá de passar por análise de "técnicos responsáveis". Somente assim uma eventual delimitação da área poderá ser publicada no Diário Oficial da União.

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Fôlego

 

Um processo de retomada teve recente sucesso para os índios Xavante, também de Mato Grosso. O caso dá fôlego ao intuito dos Ikpeng. Em decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), no último dia 8, eles reassumiram a terra Maraiwatsede, antes ocupada por posseiros.

 

Segundo a decisão do TRF1, a etnia Xavante "foi despojada da posse de suas terras na década de 60, a partir do momento em que o Estado de Mato Grosso passou a emitir título de propriedade a não índios".

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