Após rápida reunião, ministros decidem pedir demissão coletiva

Sem presença de Dilma, encontro ministerial foi conduzido por Jaques Wagner e Ricardo Berzoini

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Foto do author Vera Rosa
Por Tania Monteiro , Carla Araujo e Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - Mesmo já sabendo que o Senado votaria o afastamento da presidente Dilma Rousseff ministros do governo amanheceram ontem com “muitas dúvidas” sobre o futuro de suas pastas e coube aos ministros do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reunir praticamente todos os membros da Esplanada no Palácio do Planalto para definir as ações e sanar os questionamentos.

Em uma reunião considerada rápida, que durou pouco mais de duas horas e não contou com a presença de Dilma, ficou definido que com exceção do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e do ministro interino dos Esportes, Ricardo Laser, todos os integrantes do primeiro escalão do governo irão pedir demissão. Apenas o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, que acompanhou a votação no Senado, e a ministra das Cidades, Inês Magalhães, que participou de um evento do Minha Casa Minha Vida, em Guarulhos (SP), não participaram da reunião.

Ministros de Dilma em reunião na quarta-feira, 11 Foto: Fernando Bizerra|EFE

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A ideia é que Dilma assine as demissões assim que for notificada pelo Senado, o que está previsto para acontecer hoje pela manhã, às 10h. Uma edição extra do Diário Oficial será publicada com as demissões. A decisão foi discutida durante a reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto, sob o comando dos ministros do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. A equipe de Dilma não irá fazer transição para o vice-presidente Michel Temer.

A ordem de Dilma, que não participou da reunião com os ministros, e permaneceu no Palácio da Alvorada, é de manter Alexandre Tombini para evitar qualquer tipo de turbulência econômica, para evitar causar mais problemas nesta área para o País. Da mesma forma, o ministro dos Esportes interino fica no cargo, pelo menos por enquanto, por conta da realização da Olimpíada. A ideia é que ele permaneça no posto de secretário Executivo dos Esportes. Este Diário Oficial extra vai publicar ainda a demissão dos secretários executivos dos Ministérios. Mas em alguns casos, como da Fazenda, eles permanecem em seus postos, também com objetivo de manter estabilidade do mercado.

O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, foi quem sugeriu, na reunião que algumas pessoas fossem mantidas estrategicamente nos cargos em razão de suas funções, muito específicas. É o caso do secretário-geral do Ministério da Defesa, que é um caso especial. Em cada ministério será mantido um funcionário para repassar informações técnicas e administrativas à equipe de Temer, mas não necessariamente será o secretário executivo. Na Casa Civil, o repasse de informações será feito pelo secretário executivo adjunto Bruno Moretti.

Dilma não fará transição, como antecipou o Estado, por considerar que é vítima de um golpe. Mas todas as informações técnicas e administrativas estão sendo preparadas para serem repassadas, para evitar que o governo petista seja acusado de que esteja fazendo boicote. “Não terá transição para um governo que não concordamos, mas não queremos deixar o Brasil a Deus dará”, disse um interlocutor do Planalto.

Segundo fontes, o receio é de que a presidente seja responsabilizada, por exemplo, por eventuais atrasos de pagamentos de benefícios sociais como o Bolsa Família ou algum outro eventual problema nas pastas.

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Quarentena. Os ministros terão de entrar em uma quarentena de 180 dias após deixarem o cargo, ou seja, não poderão exercer outros empregos, pois são considerados pessoas com informações estratégicas para o País. Ao deixarem os cargos e entrarem na quarentena, os ministros continuam recebendo salário, mas perdem os demais benefícios do cargo, como foro privilegiado.

O Conselho de Ética da Presidência vai analisar individualmente caso haja pedidos para que algum deles assuma algum outro emprego. “A quarentena é um instituto para preservar segredos de Estado”, afirmou um interlocutor da presidente. O mesmo acontecerá com cargos próximos aos ministros que também terão que ser submetidos a uma avaliação. Dezenas de funcionários do Planalto já entraram com pedido para ter o direito a quarentena.