Após bate-boca na Câmara, Cid Gomes deixa ministério da Educação

Convocado pela Câmara para explicar declaração sobre ‘achacadores’, ex-ministro bate-boca com deputados e com o presidente da Casa, Eduardo Cunha, que anuncia votação de projeto prejudicial ao governo e volta atrás após notícia de demissão

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Tania Monteiro , Daiene Cardoso e Paulo Saldaña
Atualização:

Atualizado às 22h00

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Brasília - A crise entre o governo Dilma Rousseff e o Congresso chegou ao auge na tarde desta quarta-feira, 18, e fez a primeira vítima no Ministério. Minutos após o PMDB ameaçar deixar a coalizão governista, o ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), foi demitido do cargo pela presidente.

Cid foi convocado pelos deputados para explicar a afirmação de que a Câmara tinha “de 300 a 400 achacadores”, feita há três semanas, em um evento fechado em Belém. As explicações deveriam ter sido dadas na semana passada, mas Cid foi internado em um hospital de São Paulo e só atendeu à convocação na quarta.

Na época, o ex-ministro foi chamado de "mal-educado" pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E foi no embate com o peemedebista que Cid explicitou o nível de tensão da tarde, ao dizer que prefere “ser acusado por ele de mal educado do que ser como ele, acusado de achaque”. Cunha disse que vai processar Cid.

O ministro da Educação, Cid Gomes explica ao plenário da Câmara declaração sobre "deputados achacadores" Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em tom de enfrentamento, Cid disse não concordar com a postura de quem, “mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm uma postura de oportunismo”. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo.”

A sessão transformou-se em intenso bate-boca que culminou com o abandono da sessão pelo ex-ministro. O PMDB ameaçou retaliar o governo e Cid seguiu ao Palácio do Planalto, de onde saiu demitido. A decisão foi anunciada por Cunha, a partir de informação do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. 

Isolado. A claque de Cid, arregimentada pelo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e pelos prefeitos de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e de Sobral, Veveu Arruda (PT), foi retirada das galerias por ordem de Cunha. Eles se aglomeraram em um telão instalado no Salão Verde para acompanhar a sessão.

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Sem nenhum gesto de apoio nem intervenções de lideranças do governo ou do PT, Cid foi alvo de deputados de oposição e rebeldes da base que pediam sua demissão. Eles citaram polêmicas envolvendo o ex-ministro e ex-governador, como a contratação de um show de Ivete Sangalo para inaugurar um hospital em Sobral, sua cidade natal, por R$ 650 mil, a viagem à Europa em que levou a sogra em jatinho pago pelo governo do Ceará e a tentativa de vetar a circulação de uma revista que o apontava como suposto envolvido no esquema de corrupção da Petrobrás. 

"Vossa excelência apontou o dedo para o presidente Eduardo Cunha e o ofendeu. Nós não aceitamos a opinião de Vossa Excelência", afirmou o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA). "Este é o momento mais constrangedor que já passei ao longo de toda minha história." O líder do PSC, André Moura (SE), disse que Cid "é mal educado, não tem moral, não tem decência e é um achacador do Estado do Ceará e de sua gente". 

Fora do microfone, deputados defendiam que Cunha desse voz de prisão ao ministro. “Eu, se fosse presidente, faria isso por ele ter desrespeitado a Casa. Tinha que ser preso”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Só o líder do PROS, Domingos Neto (CE), saiu em defesa de Cid na tribuna. "Ele falou o que muita gente tinha vontade de falar", disse ao Estado o vice-líder do governo Sílvio Costa (PSC-PE). 

Cid ouviu parte das críticas de pé, na tribuna à esquerda do plenário. Em vários momentos, sorriu com ar irônico. A pedido do líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), sentou-se de frente para Cunha. Recebeu cumprimentos de alguns parlamentares, como Jean Wyllys (PSOL-RJ). 

'Palhaço'. Ao retornar à tribuna, foi alvo de Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que o acusou de "estar fazendo papel de palhaço". Houve bate-boca e Cunha desligou o microfone do ex-ministro. Nessa hora, Cid abandonou o plenário. "Infelizmente fui convidado e agredido. Nesta condição, penso eu que estou liberado para sair do recinto e é o que estou fazendo."

Em seguida, Cunha anunciou que votaria o projeto que estende às aposentadorias o critério de reajuste do salário mínimo, pauta prejudicial ao Planalto. Com a notícia da demissão, o PMDB aceitou apelo do governo e fechou acordo para adiar a votação.

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