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Antiga igreja de Cunha adere à campanha anticorrupção do Ministério Público

Presidente da Sara Nossa Terra, Rodovalho dá apoio a investigações do Ministério Público e diz que igreja tem o 'viés da misericórdia', ao comentar acusações da Lava Jato contra ex-fiel

Por Ricardo Chapola
Atualização:

Presidente da igreja evangélica Sara Nossa Terra - frequentada até fevereiro pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha -, o bispo Robson Rodovalho disse em entrevista ao Estado que cabe à Justiça e ao Ministério Público Federal o papel de "instituição inquisidora", enquanto as igrejas têm como prerrogativa o "viés da misericórdia, do amor, do perdão". A denominação de Rodovalho decidiu apoiar a campanha da Procuradoria da República em defesa de dez medidas contra a corrupção, como o religioso anunciou em artigo publicado pelo Estado nesta quarta-feira, 4, no qual afirma ter chegado a hora de sufocar a ação dos corruptos e que os 500 mil fiéis da igreja vão ajudar na coleta de 1,5 milhão de assinaturas. O bispo, no entanto, evitou nesta entrevista falar especificamente das acusações contra o antigo fiel - no mês em que foi eleito presidente da Câmara, Cunha trocou a Sara Nossa Terra pela Assembleia de Deus Madureira.

Bispo Robson Rodovalho, presidente da Sara Nossa Terra, em agosto de 2014 Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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“O caso específico de Eduardo é um caso muito complicado, porque está no meio do processo, sob investigação. E a igreja, pela sua missão, é uma casa de amor, de perdão. E não só para o caso dele (Cunha), como no caso de qualquer outro cidadão”, afirmou Rodovalho. “A gente entende que as questões pontuais não nos competem. O Brasil tem instituições brasileiras especificamente talhadas para isso. A igreja não é a instituição inquisidora. Isso é muito mais para a Justiça, para o Ministério Público.”

Cunha é investigado no âmbito da Operação Lava Jato, sob suspeita de receber propina com dinheiro desviado da estatal por meio de contas no exterior. O peemedebista nega as acusações. O presidente da Câmara também é alvo de um processo que pode levar à cassação de seu mandato no Conselho de Ética, sob acusação de ter mentido diante dos integrantes da CPI da Petrobrás ao negar ter contas bancárias fora do Brasil.

Em 8 de fevereiro, uma semana após ser eleito presidente da Câmara,Eduardo Cunha foi a culto de agradecimento naAssembleia de Deus Madureira, na zona norte do Rio Foto: MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO

Independentemente da evolução do caso, Rodovalho disse que a Sara Nossa Terra está de portas abertas ao presidente da Câmara, caso ele queira voltar à igreja. “Não quero comprar indisposição com ele. Se amanhã Eduardo aparecer, ele vai ser bem-vindo como todo mundo. A igreja tem o viés de casa de misericórdia."

Por que a Sara Nossa Terra decidiu apoiar a campanha do Ministério Público?

A nossa postura em relação ao apoio às medidas do MP é uma decisão que nós tomamos porque entendemos que a gente tem que ter alguma coisa propositiva para mudar o Brasil. Não basta ficar indo para rua fazer protesto contra a corrupção, contra a política, contra partidos. Tem que fazer uma coisa propositiva. E as 10 medidas são medidas pontuais. A gente entende que são passos que se dão em prol de uma nova cultura. O que é consenso é que tem que se formar uma nova cultura no País do ponto de vista de uma ação política. Para mim, o problema político da corrupção é mais profundo, ela é sistêmica. Ela passa tanto pelo indivíduo quanto pelo sistema. Não estou eximindo os indivíduos de suas responsabilidades. É uma coisa sistêmica. Nós decidimos apoiar as medidas porque a gente acredita que essas assinaturas vão ser um fator a mais de demonstração do anseio da sociedade por mudanças. Uma nova cultura política, é uma coisa mais profunda, mais do que falar de um, de outro, falar de partido, partidarizar.

Como o sr avalia a situação de Eduardo Cunha, que até pouco tempo era ligado à igreja agora envolvida em denúncias de corrupção?

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Eu não posso, como bispo, fazer avaliações pontuais. Tem muita coisa que é questão da ética da nossa missão que possuímos. Nem sempre a história é completa no meio do caminho. A igreja é uma instituição de muita misericórdia, de fortalecimento da pessoa. Mas ela não pode descuidar de ter uma régua da Justiça, a régua da equidade. Na busca desse equilíbrio é que a gente trabalha esses conceitos. O caso específico do Eduardo é um caso muito complicado, porque está no meio do processo, está sob investigação. Ele está falando que vai explicar. A igreja, pela essência da sua missão, é uma casa de amor, de perdão. Jesus sempre foi incisivo nisso. Não só no caso dele, como no caso de qualquer outro cidadão. E mais ainda que a gente entende que as questões pontuais não nos competem. O Brasil tem instituições brasileiras especificamente talhadas para isso. A gente não sabe para onde isso vai evoluir. A nossa tarefa é trabalhar, conscientizar as pessoas, estabelecendo valores, princípios, pregando sobre isso. Pontualmente a gente não pode ajudar muito. Porque cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa.

A Sara Nossa Terra receberia Eduardo Cunha de novo se um dia ele decidisse voltar?

Se amanhã ele aparecer, ele vai ser bem-vindo como todo mundo. A igreja tem o viés de casa de misericórdia, de amor, de perdão. Ela não é a instituição inquisidora. Isso é muito mais para a Justiça, para o Ministério Público. A igreja é o lugar de ensino, de orientação, de construção de valores, e de ajuda de indivíduos.

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