Análise: Para Aécio, basta apoiar, não precisa participar

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, marcou para o dia 3 de maio uma reunião da Executiva Nacional para anunciar oficialmente a posição do partido em relação ao cada vez mais provável governo de Michel Temer. Contrariamente ao que defendem os paulistas José Serra e Geraldo Alckmin, Aécio tem uma convicção formada que, segundo ele, será corroborada por seus correligionários: apoiar, mas não participar. Ou seja, dar votos, mas não ocupar ministérios.

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Por Dora Kramer
Atualização:

Isso a fim de não criar na população a ideia de que seria um governo também do PSDB. “É preciso ficar muito bem entendido que nós temos nosso projeto para 2018 e dele não abrimos mão.” Provavelmente reside aí o motivo pelo qual o economista Arminio Fraga tem dito reiteradas vezes que ajuda, mas não integra a equipe de Temer, caso venha a concretizar o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Arminio, como se sabe, havia sido escolhido pelo então candidato a presidente para o comando da Fazenda, se ganhasse a eleição de 2014.

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Há também no PSDB uma espécie de “programa mínimo”, uma agenda que o partido gostaria de ver encaminhada. De imediato enxugamento na máquina administrativa, fim das nomeações mediante apadrinhamento partidário nas empresas estatais, nas agências reguladoras e nos fundos de pensão. Junto a isso, claro, as reformas política, trabalhista e da Previdência.

Se fosse para dar um conselho a Michel Temer – que, aliás, já deu – Aécio Neves diria que ele não tem tempo para errar, “precisa transformar a expectativa do País em boa impressão”. E recorrendo à frase do designer americano Aaron Burns, completa: “Você nunca tem a segunda chance de causar uma boa impressão”.

E se está tudo bem desenhado, se a decisão está tomada, por que esperar ainda uma semana para anunciar? Em tese, porque é necessário aguardar o juízo de admissibilidade da Comissão Especial do Senado. Na prática, duas razões. Uma, tentar pacificar a questão internamente. A outra, vamos buscar naquilo que Temer depreendeu do encontro que teve com Aécio e Fernando Henrique Cardoso na segunda-feira passada, quando o senador mineiro disse ao vice Temer que a conversa entre PSDB e PMDB deve ser “institucional”. De presidente (de partido) para presidente (da República).

No entendimento do grupo de Temer, isso quer dizer que as coisas não estão assim tão definidas e que há jogo ainda para ser jogado desde que conduzido por Aécio, sem acertos paralelos ou acordos pontuais. Já o presidente do PSDB explica a situação de outra maneira, bem mais direta: os tucanos não virarão as costas, garantem apoio no Congresso, mas na perspectiva de que se trata de um governo do PMDB. Outra turma.

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Agora, sem grandes radicalismos, como convém ao tucanato. Por exemplo, se Temer convidar e o senador José Serra aceitar ocupar um ministério, o partido não terá objeções, muito menos fará como o PT que expulsou Luiza Erundina quando ela assumiu a pasta da Administração do no governo de Itamar Franco. Apenas deixará claro que quem aceitar (Serra ou outra pessoa) o fará em nome pessoal.