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ANÁLISE: Gilmar Mendes e a maçaranduba do alienista

Craque em roubar a cena – porque calculadamente destemperado, destemido e sem papas na língua – o ministro do STF animou a sessão desta quarta-feira, 20

Por Luiz Maklouf Carvalho
Atualização:

Maçaranduba. Não consta que alguma vez a palavra cascuda tenha ecoado no plenário do Supremo Tribunal Federal – mas é também para isso que existe a classe e a finesse do ministro Gilmar Mendes. Na tarde desta quarta-feira, 20, dirigindo-se à presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, e aos demais pares presentes, Gilmar contou, com verve de estivador, uma fofoca que disse ter ouvido no Itamaraty, ou de gente de lá. Qual seja: Maçaranduba era o apelido, no meio diplomático, do procurador da República Marcello Miller, já saído do posto sob forte desconfiança, em apuração, de ter misturado o público e o privado.

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Maçaranduba vem a ser, segundo a definição técnica, madeira pesada e dura. Um pouco também como Gilmar, há que lembrar, com ares de arrogância até fisicamente parecidos com os do ex-procurador. Quem não se lembra, afinal, de “o senhor não está falando com os seus capangas de Mato Grosso”, premonitória reação do então ministro Joaquim Barbosa nos tempos em que a coragem para enfrentar o campo aberto e minado de Gilmar não tinha medo de se expor. 

Agora tem, como se viu no constrangedor e acuado silêncio dos demais, especialmente dos ministros que comungavam publicamente no cálice de Rodrigo Janot, o agora ex-PGR que tão melancólica e desastradamente encerrou seu mandato (mas não os ressentimentos, como se verá).

Craque em roubar a cena – porque calculadamente destemperado, destemido e sem papas na língua – Gilmar animou a sessão da quarta-feira. Até no ministro Celso de Mello se pode ver alguma excitação com a comparação do ex-PGR – “morto”, segundo Gilmar – ao dr. Simão Bacamarte, atualíssimo personagem machadiano-swiftiano do ainda mais atualíssimo O alienista. Já no ministro Luís Roberto Barroso – talvez o futuro Joaquim Barbosa de Gilmar, quem sabe? – via-se a iminência de acoplar-se à tela do computador, e, se possível, sumir.

Continua valendo, para o Supremo, uma frase do juiz Oliver Wendell Holmes, da Suprema Corte americana: “Aqui na Corte é muito quieto, mas é a quietude do centro de um furacão”.

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