Para Lula, a candidatura aparece como tábua de salvação no meio do maremoto de processos em que se torna réu. Parece supor que sua postulação inibiria seus algozes, já que os obrigaria a travar uma luta mais diretamente política, investindo contra o mais popular dos candidatos presidenciais. Ocorre, contudo, que, tanto sua candidatura como as investidas judiciais nesse campo, já estão “precificadas” pelos atores envolvidos. Não há policial, promotor ou juiz que não saiba contra quem investe, quando o faz contra Lula. Aliás, se tais investidas têm motivação eleitoral, a candidatura presidencial é algo tomado como dado, um lance antecipado, tendo sua concretização pouca possibilidade de alterar a dinâmica.
Ademais, o ano de 2017 é um período de interregno entre as disputas eleitorais, e o lançamento da candidatura seria assim apenas extraoficial, restringindo os movimentos do candidato (que poderia ser acusado de campanha antecipada) sem inibir ações mais duras da Justiça.
Em suma, mais do que uma decisão surpreendente, a candidatura presidencial de Lula é o desfecho mais óbvio para um partido e um líder que ficaram com poucas alternativas a escolher. Surpresa virá se algo diferente acontecer. *É PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA NO DEPARTAMENTO DE GESTÃO PÚBLICA DA FGV-EAESP