ANÁLISE: Ex-iceman pode agora desestabilizar governo

A surpreendente prisão de Eduardo Cunha pode provocar instabilidade política e preocupa mais diretamente tanto o governo como partidos e lideranças políticas mais alinhadas com Michel Temer. Nas hostes governistas o temor sobre as consequências dessa prisão podem ser divididas em duas frentes. 

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Por Marco Antonio Teixeira
Atualização:

A primeira refere-se ao risco de eclosão de uma crise política que se torne tão intensa a ponto de paralisar os trabalhos do Congresso. Isso dificultaria a tramitação e a aprovação de interesses do governo no Legislativo como PEC-241 e a Lei da Repatriação, questões tidas como indispensáveis para a viabilização do ajuste fiscal e para a manutenção da relação de confiança com os agentes do mercado. 

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A segunda frente de preocupação é com a manutenção da equipe governamental frente aos efeitos de uma possível delação. No último fim de semana já havia circulado na grande imprensa supostas declarações que foram atribuídas a um ex-executivo da Odebrecht acusando membros do atual governo de terem recebido propina em troca da defesa de interesses da empresa. Uma possível revelação nesses mesmos termos, caso feita por Eduardo Cunha, poderá ter efeito devastador sobre o governo não apenas pelo fato de ele ter sido o condutor do processo de impeachment que levou o atual grupo político ao Planalto, mas também pela importância e papel que Cunha sempre teve dentro do PMDB.

Considerado um “iceman”, Cunha tem agora razões de ordem pessoal para se desestabilizar emocionalmente: os processos de sua mulher e de sua filha também estão com Sérgio Moro. Sem a presidência da Câmara, sem o mandato de deputado, sem recursos de poder que antes o protegiam e agora na condição de preso, a delação poderá ser o último caminho na tentativa de minimizar sua pena e de diminuir os efeitos de uma eventual condenação sobre a família dele. O comportamento de Eduardo Cunha tornou-se imprevisível e essa é maior preocupação de quem dependia das ações dele para a viabilização de projetos de poder. *CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DA FGV SP

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