Análise - Três batalhas em uma guerra

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Por Marco Antonio Carvalho Teixeira
Atualização:

O governo perdeu a primeira batalha. A Comissão Especial do Impeachment aprovou por 38 a 27 votos o parecer do relator que aponta indícios de crime de responsabilidade por parte da presidente Dilma Rousseff. A decisão segue para a apreciação do plenário da Câmara e pode ser encaminhada ao Senado, se aprovada pelos deputados. O governo já tinha assimilado a derrota, mas esperava um placar mais apertado. O resultado é um indicador do tamanho das dificuldades de Dilma para tentar se manter no cargo.

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A disputa se arrastava desde dezembro, quando o STF mandou refazer o rito de escolha dos membros da comissão. Naquele momento se projetava, sobretudo após o Palácio do Planalto ter derrotado o vice Michel Temer com a recondução do deputado Leonardo Picciani à condição do líder do PMDB, a possibilidade de o governo vencer no colegiado. O que fez mudar essa expectativa?

Alguns fatos de repercussão na opinião pública, ocorridos quando os trabalhos da comissão nem sequer tinham sido iniciados, foram decisivos: a condução coercitiva de Lula; o discurso inflamado dele afirmando estar pronto para a guerra e a nomeação como ministro da Casa Civil, seguida do episódio da conversa grampeada com Dilma. Esse conjunto de situações, aliado ao desembarque do PMDB, isolou o governo e estimulou o abandono de outros aliados.

O que esse primeiro round projeta para as batalhas seguintes no plenário da Câmara e possivelmente no Senado? A segunda e decisiva disputa - pois pode interromper o prosseguimento do processo de impeachment - vai ocorrer no plenário da Câmara. Mesmo dispondo de cargos para tentar manter o apoio de aliados, avançar sobre o que resta da ala governista do PMDB e conseguir adesão de ao menos 172 deputados, Dilma sofre a concorrência do senador Romero Jucá, ex-líder de governo que, segundo vem sendo noticiado, já negocia a formação do gabinete de Temer. Não estão em jogo apenas os cargos, mas a possibilidade de escolha entre um governo já desgastado e outro que, apesar de incerto quanto a receptividade social, conta previamente com o apoio de grande parte dos mercados e do PSDB após este partido abandonar a bandeira da antecipação das eleições.

A principal batalha para o governo será mesmo no plenário da Câmara. A razão é simples: se perder entre os deputados, a terceira batalha, a do Senado, tende a ser inócua. Dificilmente, em ano eleitoral, a maior parte dos senadores vai reverter a decisão da Câmara, considerando que mais de 60% dos brasileiros querem o fim do governo Dilma, em que pese 58% também não desejarem Temer, como foi demonstrado na ultima pesquisa Datafolha.

A diferença é que Temer não é tão demonizado por setores da economia como Dilma e deve ter um período inicial de calmaria caso pelo possível arrefecimento das manifestações. Entretanto, com ou sem impeachment, é importante reiterar que, se não forem feitas reformas estruturais no Estado e reforma política no interesse da sociedade, e não apenas no agrado dos competidores com mandato, o risco de se repetir os mesmos problemas continuará alto. A boa notícia é que a sociedade demonstra não suportar mais essa gangorra e cobrará mudanças.

*Professor de Ciência Política do curso de administração pública da FGV-SP

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