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Agronegócio foi o único a resistir à desaceleração

Por uma década, política de crédito e boom de commodities ajudaram setor, mas expansão expôs vários gargalos

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Por Anna Carolina Papp
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Considerado um “oásis” em meio à desaceleração econômica, o agronegócio vem, nos últimos anos, colecionando grandes números e cravando sua competitividade no cenário internacional. No governo petista, o País bateu recordes de produção e virou o principal exportador mundial de soja. Mas infraestrutura deficitária e incertezas em relação a crédito e câmbio causam preocupações.

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De 2003 a 2015,a produção de grãos no País cresceu mais de 70%. Parte desse avanço se deveu, além do investimento pesado em tecnologia, à política de crédito favorável. Do primeiro mandato de Lula ao ano passado, o montante de recursos do crédito rural, reajustados pela inflação de dezembro, cresceu quase 140%, segundo o Banco Central.

“Houve ao longo do período razoável liberação de crédito, pois o sistema financeiro teve expansão bastante grande nos últimos 14 anos”, diz Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector. “O agronegócio acabou crescendo. O mérito do governo foi não interferir demais.”

Por uma década, o setor também foi alavancado pelo boom das commodities, com preços valorizados pela crescente demanda da China. “Exportações do agronegócio foram fundamentais para o crescimento das reservas brasileiras de 2003 a 2013, o que também contribuiu para a estabilidade do câmbio.”

Mas a expansão expôs a deficitária infraestrutura do País, com gargalos nas logísticas de transporte, armazenagem e escoamento. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), 9% a 13% da soja é desperdiçada no transporte até os portos e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não conseguiu reverter esse quadro, já que boa parte das obras não saiu do papel.

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Outra crítica do setor no governo Dilma foi ao controle do preço da gasolina. “A produção de álcool, que vinha crescendo de forma significativa nos anos de 2005, 2006 e 2007, teve grande retrocesso”, diz Bruno Lucchi, da CNA. Usinas de açúcar e etanol encerraram a safra 2015/16 com endividamento recorde de R$ 95 bilhões.

No fim do primeiro mandato de Dilma, além da paradeira das obras de infraestrutura, a queda do apetite chinês e a recuperação mundial dos estoques provocaram baixa nos preços de commodities em dólar. A rentabilidade da safra 2014/2015 foi mantida graças ao câmbio.

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Com a recessão, o volume e o preço do crédito para as próximas safras também causam apreensão. “Somos eficientes da porteira para dentro, mas o custo de escoamento aumenta a cada dia”, diz João Martins, presidente da CNA. “Plantamos com um dólar a R$ 3,80 e podemos colher com R$ 3.”

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