A voz do dono

As manifestações não foram monumentais nem acanhadas demais. Nada houve de anormal: a sociedade protestou, disse o que quis, cabe ao governo agora dizer o que ela quer ouvir. Ou melhor, fazer o que dele se espera.

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Por Dora Kramer
Atualização:

E o que pede o País? No mínimo, um governo eficiente que não deixe explodir a inflação que a todos infelicita, e se conduza a partir de razoáveis padrões de moralidade a fim de distanciar o aparelho de Estado de assaltos às mãos armadas das ganâncias do poder.

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Acordos, como os feitos na semana passada, rendem boas fotos, mas não necessariamente produzem resultados nem apresentam garantias de durabilidade. Aos congressistas, banqueiros e governantes de “boa vontade” falta combinar com a insatisfação das pessoas, fartas das mentiras e revoltadas diante da devastação moral, legal e social em que os governos do PT mergulharam o Brasil.

Numericamente, as manifestações de ontem foram menores que as primeiras, de março, e um pouco maiores que a penúltima, de abril. A dimensão pode servir ao Planalto como argumento. Frágil, no entanto. A quantidade de gente que saiu ou ficou em casa não determina o grau de descontentamento das pessoas.

Se não resolver mais uma vez negar a realidade, alegando que os protestos não representam a opinião da maioria, suas excelências governistas haverão de registrar uma diferença essencial: antes dispersas, as manifestações de ontem apresentaram palavras de ordem bem definidas.

Concentraram-se no pedido de interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff e introduziram dois personagens na história. O ex-presidente Luiz Inácio da Silva, de maneira negativa, e o juiz Sérgio Moro, de forma positiva. 

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É a voz do dono (do voto) dizendo que rejeita a governante que praticamente acabou de reeleger e também que cansou da falação enganosa de Lula e que apoia a firmeza do desenrolar da Operação Lava Jato. Escolhe homenagear, outra vez, o magistrado, como antes havia posto na mesma posição o então ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Em matéria de herói, fica melhor o Brasil com uma figura que simboliza a Justiça do que com o mau-caratismo malandro de Macunaíma.

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