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8 MILHÕES DE FÃS E NENHUMA CAUSA NO CONGRESSO

Irmão Lázaro (PSC-BA) diz que não pretende levantar bandeiras em Brasília, onde chega com maior influência digital que campeões de votos

Por Tiago Décimo e VALMAR HUPSEL FILHO
Atualização:

Aos 48 anos, Antonio Lázaro da Silva passa poucos minutos por dia em frente ao computador. Mesmo assim, quando tomar posse para o primeiro mandato como deputado federal, Irmão Lázaro (PSC-BA), como é mais conhecido, ostentará o título de parlamentar mais conectado do Congresso. Nas principais redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Google Plus), ele possui hoje 7,8 milhões de seguidores e fãs de suas publicações. O número é mais que o dobro do que tem, por exemplo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado à presidência da República neste ano, que soma 3,8 milhões de fãs, o maior índice do Senado.

A soma de fãs e seguidores de um parlamentar nas principais redes sociais foi resumida em um índice com o objetivo de mensurar a influência dos deputados e senadores no meio digital. O Indicador de Alcance Social (IAS) foi criado pela empresa de consultoria Bites Radar, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas São Paulo.

Por este índice, apesar de ter recebido cerca de 161 mil votos, Irmão Lázaro supera, e muito, o deputado mais votado do Brasil em 2014, Celso Russomanno (PRB-SP). Defensor de causas de forte apelo popular, como direitos do consumidor, Russomanno, que este ano teve mais de 1,5 milhão de votos, é apenas o quarto maior IAS na Câmara, com 462 mil seguidores.

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Lázaro também fica à frente de parlamentares que, de forma antagônica, polarizaram discussões em torno de causas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), fortemente debatidas nas redes sociais nos últimos quatro anos. Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tem 1,9 milhões de IAS e é seguido por Jean Wyllys (PSOL-RJ), que aparece em terceiro, com 817 mil.

Irmão Lázaro afirma que não pretende defender uma causa específica - fórmula certa para sucesso de parlamentares na internet. Diz apenas que será um conservador, mas aberto ao diálogo. Ele, por exemplo, é contra a legalização da maconha e defensor da família "no modelo de Deus, homem e mulher".

Sobre casamento de pessoas do mesmo sexo, Irmão Lázaro tem posições conflitantes. Diz que acha "estranho do ponto de vista religioso", mas é defensor da liberdade individual. "Se quiserem viver juntos, isso deve ser respeitado. Tem que se entender que homossexualismo é pecado, mas as pessoas são livres", diz, ressalvando que, apesar do perfil conservador, vai apoiar o combate à violência contra gays.

Para divulgar sua atuação na Câmara, o deputado pretende criar um perfil específico. A ideia é separar seus eleitores do público que lhe garantiu o sucesso na internet. Qualquer postagem no Facebook, a rede social em que ele tem maior adesão, é curtida por pelo menos três dígitos de pessoas. "Criei uma página para levar palavras de conforto para as pessoas, alguma coisa construtiva", disse. A mensagem que deixou no seu aniversário, 4 de novembro, por exemplo, teve mais de 230 mil "curtidas" e mais de 2,3 mil compartilhamentos.

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Pastor evangélico da Igreja Batista Lírio dos Vales, em Salvador, Irmão Lázaro deve a popularidade na rede à ligação com a igreja, mas não só por causa de suas pregações. Ele é um cantor gospel de sucesso. Seu mais recente DVD, Eu Te Amo Tanto, vendeu 200 mil cópias, afirma. À Justiça Eleitoral, declarou R$ 4,77 milhões em bens - o maior deles é a participação na Patrimonial Ramali, empresa de administração de imóveis. Há dois anos, montou uma livraria dedicada a livros evangélicos em Feira de Santana (BA), onde mora.

A hoje confortável vida de Irmão Lázaro tem uma história de altos e baixos, que ele costuma relatar a fiéis da igreja. "Tenho uma história de superação que as pessoas veem como inspiração", conta. Originário de uma família de músicos, sua relação profissional com o meio artístico vem desde o fim da adolescência. Antes mesmo de entrar para a vida religiosa, na década de 1990 fez parte do Olodum e das bandas de reggae Terceiro Mundo e Cão de Raça - esta última acompanha até hoje o reggaeman mais famoso da Bahia, Edson Gomes.

Foi mais ou menos nessa época, relata, que começou a se viciar em drogas, principalmente cocaína. Para Lázaro, foi o caminho para o fundo do poço. "Cheguei a viver nas ruas, comendo lixo", lembra. Estava nessa situação quando, em frente a um bar, a luz lhe acendeu na forma da fachada de uma igreja. Era 1999. Entrou e diz que mudou de vida. Hoje, ele se considera, além de sobrevivente, um exemplo. "Meu desejo é continuar trabalhando nas causas sociais", diz. Para conciliar a vida de artista com a de parlamentar sem ficar longe da família, planeja levar a mulher e a filha de 3 anos aos shows nos fins de semana.

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