Um rio de antagonismo nas eleições 2014

Deputados Jean Wyllys e Jair Bolsonaro expõem os extremos ideológicos na disputa fluminense pela Câmara

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Por Luciana Nunes Leal e Wilson Tosta
3 min de leitura
Deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) Foto: Estadão

Atualizado às 15h35

Ao fim de duas horas de debate com o tema “Estado Laico, Direitos Humanos e Diversidade”, jovens fazem fila para conversar, abraçar e posar para fotos com o deputado federal Jean Wyllys (PSOL). Alguns se emocionam, outros querem saber como ajudar na campanha de reeleição do jornalista e professor que virou celebridade ao vencer o programa Big Brother Brasil de 2005 e que, na política, se destacou pela defesa da comunidade gay e pelo enfrentamento ao “fundamentalismo religioso”. Escolhido por pouco mais de 13 mil eleitores em 2010 e eleito graças à ampla votação do companheiro de partido Chico Alencar, Jean agora é uma aposta do PSOL para ajudar a puxar votos e eleger mais um deputado. Mas mantém cautela. “Fiz a opção difícil de lutar pelos direitos humanos dos grupos que não têm sequer sua humanidade reconhecida, vítimas de preconceitos atávicos, LGBT, povos indígenas, negros, pobres, profissionais do sexo, população carcerária. Sou alvo de difamação sistemática por causa disso e minha reeleição não está garantida. Sou homossexual assumido e com orgulho da minha homossexualidade. Só isso já é motivo para muita gente não votar em mim”, diz, desta vez na Universidade do Rio de Janeiro (UniRio), na zona sul da capital. Panfletagem na rua é atividade rara na campanha de Jean, que completou 40 anos em março. Ele prefere debates, principalmente em universidades, e já fez 18 comícios domiciliares. Nessas ocasiões, além da atuação política, fala um pouco mais sobre a própria história. “Nasci na periferia de Alagoinhas, na Bahia, aos 10 anos eu trabalhava para ajudar em casa”, conta. No registro da candidatura, o deputado declarou ter patrimônio de R$ 1.192.835,64. O aumento patrimonial é de 222% em relação a 2010, quando declarou R$ 370 mil.

De acordo com o candidato, o aumento é em razão do financiamento de um apartamento, cujo valor mensal é de R$ 4 mil. "O preço de um aluguel que qualquer pessoa com minha formação e com meu trabalho de professor universitário pode pagar; pois estou deputado, não sou deputado", informou Jean em nota. "O aumento do patrimônio é, portanto, uma dívida. Acontece que o TRE divulga o valor do patrimônio adquirido via financiamento, mas não divulga a dívida, ou seja, não diz que ele é financiado", concluiu. Entre os projetos apresentados por Jean neste primeiro mandato estão o casamento civil igualitário, a regulamentação da prostituição, a regulação da produção e consumo da maconha e a lei de identidade de gênero. “Fui difamado, recebi ameaças de morte, as pessoas distorcem o sentido de minhas propostas”, reclama Jean. O deputado diz que, entre seus maiores difamadores, estão o colega Jair Bolsonaro (PP-RJ) e os filhos, Flávio, deputado estadual, e Carlos, vereador. “Eles fazem campanha sistemática e espalham mentiras sobre mim”, reclama. Redes sociais. Com apenas R$ 1 mil de doação até agora, contribuição de uma eleitora, o deputado usa as redes sociais como principal ferramenta de divulgação de seu mandato e, agora, da campanha. Há duas semanas, Jean usou o Twitter para elogiar a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, pelo programa de governo que defendia temas de interesse da comunidade LGBT. E criticou o recuo da ex-ministra no dia seguinte. “Cheguei a pensar que Marina poderia arrastar a campanha eleitoral para um campo progressista e do discernimento. Quando ela cedeu, foi uma decepção tremenda”, diz Jean, que faz campanha para a candidata do PSOL, Luciana Genro. O deputado, entretanto, comprou algumas brigas no PSOL. Com outros parlamentares da sigla no Rio, assinou carta aberta com críticas à candidatura a deputado federal do Pastor Jeferson Barros pelo partido. Jeferson foi barrado pela executiva estadual, mas teve aval da direção nacional para registrar a candidatura. O caso será julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Com fundamentalismo não pode ter diálogo, e ele (Jeferson) é fundamentalista”, sustenta Jean. O pastor nega que tenha atitudes homofóbicas e diz que os colegas de partido nem sequer conhecem sua história.

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