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‘Serra tem ética seletiva’, afirma Haddad ao rebater mensalão

Candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Haddad afirma que tucano não menciona mensalão mineiro nem escândalos de Kassab durante o debate eleitoral

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Por Redação
Atualização:

Um dia depois de José Serra (PSDB) ter admitido que usará o julgamento do mensalão na campanha, o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, elevou o tom do duelo. "A ética do Serra é seletiva. Só vale para os seus adversários", reagiu.Haddad mostrou que o segundo turno será mais agressivo e citou escândalos que pairam sobre o PSDB, como o mensalão tucano e a compra de votos para a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998. Depois de gravar ontem, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cena de agradecimento aos eleitores para o reinício da propaganda política na TV, Haddad comemorou o apoio do PMDB e disse esperar a adesão de Celso Russomanno (PRB).O candidato derrotado do PRB Celso Russomanno vai apoiar sua campanha?Tivemos um contato já. Vamos aguardar. Eu entendo que há duas circunstâncias favoráveis para o entendimento entre nós. A primeira é que nossas três candidaturas - a minha, a de Russomanno e a de Gabriel Chalita - sinalizaram pela mudança e adotaram um tom crítico a atual administração. E a segunda é o fato de pertencermos à mesma base de sustentação do governo federal. Até agora, o sr. só tem fechado o apoio do PMDB?Temos uma ritualística que precisamos respeitar. O vice-presidente Michel Temer sinalizou o apoio, o que muito me honra.O sr. disse que Russomanno não tinha plano de governo, que a tarifa de ônibus proporcional aumentaria o preço da passagem e que a eleição dele seria um salto no escuro. O sr. retira o que disse para tê-lo no palanque?Fiz uma crítica à ideia e mantenho essa crítica. Não acredito nessa tese da tarifa proporcional. Essa proposta traria prejuízo à população mais pobre da cidade e não retiro o que disse. Eu mantive sempre um debate em torno de ideias. Nunca desdenhei da pessoa dele.O sr. vai buscar o voto dos evangélicos da Igreja Universal?A aliança no plano federal com o PRB passa longe dessa questão religiosa. Jamais trataria do assunto nesses termos. Sou filho de imigrante libanês, que sofreu na pele esse tipo de confusão entre religião e política. O candidato do PSDB, José Serra, avisou que usará o mensalão contra sua campanha. Ele disse que fará discussão de valores com o PT porque quem tem mal entendido com o passado é o seu partido. Como o sr. responde?A ética do Serra é seletiva. Só vale para seus adversários. Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei. Ela não vale para dentro, só vale para fora. Porque, caso contrário, ele faria menção ao mensalão tucano, que é anterior, é a matriz, e está para ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal na sequência desse processo. Ele mencionaria a suspeita de corrupção em torno da gestão do prefeito Gilberto Kassab.A que denúncia o sr. se refere?O secretário de Saúde (Januário Montone) é réu num processo de desvios de recursos da merenda escolar. O vice de Serra, ex-secretário da Educação (Alexandre Schneider), é réu em processo de improbidade administrativa por contratação sem licitação. O Hussain Aref, que Serra nomeou, adquiriu mais de cem imóveis com um salário de servidor público. O secretário do Meio Ambiente (Eduardo Jorge) é réu, junto com o prefeito, num processo que o Ministério Público encaminhou sobre o contrato com a Controlar. No que me diz respeito, vou defender sempre a investigação até as últimas consequências. Não farei seleção por partido. Não abafamos as investigações. Do que o sr. está falando? Na década de 90, nada era investigado pelo PSDB. A compra de votos para a reeleição (do ex-presidente Fernando Henrique), as privatizações que até hoje não foram esclarecidas... Nenhuma CPI foi instalada em função da pressão do governo da época.O seu contra-ataque no horário eleitoral vai ser nessa linha?Não se trata de um contra-ataque. É uma discussão. Serra é incapaz de comentar se ele é a favor ou contra a condenação do Eduardo Azeredo (no mensalão tucano), se é a favor ou contra o Aref, que ele nomeou.O sr. é a favor ou contra a condenação de José Dirceu?Eu não acompanhei o processo até pela coincidência de agenda. O Supremo Tribunal Federal marcou o julgamento na mesma época da campanha eleitoral. A decisão do Supremo é soberana e temos de respeitar.O sr. acha que o Supremo agiu de forma casuística ao marcar o julgamento nessa data?Eu não diria isso. Diria que a eleição acabou concorrendo com essa agenda. E talvez isso tenha prejudicado o calendário político, porque nós não pudemos fazer o debate que gostaríamos sobre a cidade.O deputado Paulo Maluf (PP)disse que o sr. estaria melhor se tivesse usado mais a imagem dele na campanha. O sr. vai seguir os conselhos de Maluf ou pretende mantê-lo escondido?Eu não quero causar constrangimento ao governador Geraldo Alckmin (PSDB). Eles têm uma aliança no governo do Estado e o PP ocupa cargos importantes. Não sei por que isso nunca é dito.Mas a foto mostrando o sr. e o ex-presidente Lula, no jardim da casa de Maluf, ficará na história.Minha eleição também ficará na história e vou perseverar para conquistá-la. Acho importante São Paulo mudar de rumo. O sr. vai chamar a deputada Luiza Erundina (PSB), que renunciou à vice em sua chapa por causa de Maluf, para reforçar sua campanha no segundo turno ou ainda está magoado com ela?De forma nenhuma. Isso é página virada. Erundina me ligou hoje (ontem), feliz da vida com a minha ida para o segundo turno. E eu fiquei muito feliz com o telefonema. Ela tem feito muitas plenárias com militantes. O apoio dela me honra muito.A eleição para a Prefeitura de São Paulo, com o tradicional embate entre o PT e o PSDB, pode ser considerada uma prévia da disputa presidencial, em 2014?O que está em jogo hoje é menos isso e mais a questão local, a forma como a cidade vem sendo administrada. A questão nacional aparece pela perda de oportunidades da atual administração em relação a parcerias com o governo federal. Perderam-se muitas oportunidades na área de saúde, educação, moradia e transporte público, por causa de uma visão mesquinha e provinciana da política.

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