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Sem Joaquim Barbosa, PSB racha e futuro eleitoral fica incerto

Partido se divide entre achar novo nome ao Planalto ou apoiar outra sigla; presidenciáveis buscam herdar votos de ex-ministro

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Por Redação
Atualização:

O anúncio do ex-ministro Joaquim Barbosa de que não será candidato à Presidência da República pegou de surpresa não só integrantes de seu partido, o PSB, como lideranças políticas de outras legendas. A decisão abriu uma divergência no PSB sobre seu futuro eleitoral e levou outros partidos a buscarem o apoio dos pessebistas na disputa de outubro. No Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 8, durante encontro nacional de prefeitos, pré-candidatos ao Planalto acenaram com possíveis alianças.

O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Joaquim Barbosa anunciou a desistência por meio de sua conta oficial no Twitter por volta das 10 horas desta terça. Líderes do PSB foram avisados pouco antes da decisão. O ex-ministro ligou para o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, e enviou mensagem por WhatsApp para o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que comanda uma das alas mais influentes da sigla.

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“Tomamos um café juntos na semana passada, no Rio, quando tratamos de uma série de decisões sobre contratação de assessores e conversas com especialistas, mas ele recuou”, disse Siqueira ao Estadão/Broadcast. Embora demonstrando frustração, o dirigente afirmou que a decisão de Barbosa não chegou a ser “completamente uma surpresa” para ele, pois o ex-ministro sempre deixou claro que tinha dúvidas sobre a candidatura.

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Siqueira disse que o partido vai definir nas próximas semanas como se posicionará nas eleições. A legenda está rachada. Há quem insista na tese de candidatura própria e quem defenda aliança com outros presidenciáveis. Os mais cotados para herdar esse apoio são o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a ex-ministra Marina Silva (Rede) e até o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), apesar de a sigla ter aprovado resolução interna determinando apoio a um nome de centro-esquerda, caso não tivesse candidatura própria.

“Seja Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva ou qualquer nome hoje colocado, o PSB ganharia de um lado e perderia do outro. Precisamos de uma solução que não atrapalhe nossos 10 candidatos nos Estados”, afirmou o ex-deputado Beto Albuquerque, um dos vice-presidentes do PSB. Ele é um dos que defendem que o partido mantenha candidatura própria e busque outro nome alternativo à Barbosa. “Qualquer outro candidato não vai unificar”.

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No PSB, porém, há até quem ainda queira insistir na candidatura de Barbosa. Em reunião com integrantes da bancada nesta terça-feira, o líder da legenda na Câmara, deputado Julio Delgado (MG), disse que tinha enviado mensagem para o ex-ministro pedindo que ele refletisse “em nome do povo brasileiro” e reconsiderasse a decisão de não disputar o Palácio do Planalto neste ano. “O PSB não tem plano B. A eleição perdeu seu grande nome”, disse Delgado.

Outros parlamentares do PSB, porém, avaliam que o racha é inevitável por causa das conveniências eleitorais de cada Estado. Com a divisão interna, os demais presidenciáveis a intensificarem articulações para obterem o apoio do PSB. 

“Se dependesse de mim, já estávamos juntos com o PSB. Agora temos que respeitar. É outro partido, tem uma lógica própria. Vamos aguardar”, acenou Alckmin, que tem o governador paulista, Márcio França, como um dos principais aliados do PSB. França defende aliança da sigla com Alckmin no plano nacional em troca de apoio do tucano a sua reeleição no Estado.

PDT DE CIRO PREPARA OFENSIVA

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O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, já prepara ofensiva sobre lideranças do PSB para tentar consolidar a aliança. “Vamos aumentar essas conversas que, aliás, nunca paramos. Agora elas ganham outro patamar, porque agora é real a chance de aliança”, disse Lupi. 

Pré-candidato do PDT, o ex-ministro Ciro Gomes afirmou que, por ora, é difícil afirmar se a desistência favorece mais a esquerda ou a direita. “Ninguém sabe, porque ele não tinha se posicionado ainda. É uma pessoa que passou dois anos em horário nobre (na TV, durante o julgamento do mensalão), mas ainda não tinha se posicionado sobre economia, sobre desenvolvimento”, avaliou Ciro durante a 73.ª Reunião Geral da Frente Nacional dos Prefeitos, realizada em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

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A ausência de Barbosa na disputa também gerou discussões dentro do PT. O ex-ministro da Justiça Tarso Genro (PT) sugeriu que a direção nacional do partido procure a direção do PSB “imediatamente” para que a legenda seja incorporada a uma possível frente eleitoral de esquerda ainda no primeiro turno da eleição. Questionado se a união seria em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato e cuja pré-candidatura tem sido reiterada quase diariamente pela direção petista, o ex-ministro respondeu: “Em torno de quem a frente decidir”.

No Rio, o pré-candidato do Podemos Alvaro Dias afirmou que a ausência de Barbosa empobrece o debate e deixou aberta uma aliança. Ele disse ainda que gostaria de herdar votos do ex-ministro. “A ausência de Barbosa do processo eleitoral empobrece o debate, mas deixa espaço aberto para um candidato no campo da ética. Espero herdar votos de Joaquim Barbosa”. /IGOR GADELHA, FELIPE FRAZÃO, PEDRO VENCESLAU, RICARDO GALHARDO, ROBERTA PENNAFORT e RENATA BATISTA

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