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Se a viagem é para fora, eles vão de 1ª classe

Três ministros concentram maior parte das viagens na área mais confortável dos aviões

Por Debora Bergamasco e Fabio Fabrini
Atualização:

Três integrantes da cúpula do governo da presidente Dilma Rousseff não dispensam a primeira classe quando precisam voar para o exterior. Usam para isso um decreto de 2000, editado na gestão Fernando Henrique Cardoso, que garante a ministros, secretários de Estado, além de chefes das Forças Armadas, vaga na classe Executiva ou na 1ª classe. Basta escolher. 

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O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel quase sempre vêm escolhendo, desde 2011, ficar na ala mais confortável da aeronave. 

Entre os 39 ministros de Dilma, 11 já fizeram, em algum momento, uma viagem na 1ª classe, com gasto de R$ 1,9 milhão. Os três donos das chaves do “cofre” – Mantega, com 14 viagens, Tombini, com 46 viagens, e Pimentel, atualmente governador eleito de Minas, com 18 viagens –, foram responsáveis por R$ 1,5 milhão dessa despesa. 

Algumas passagens custaram até R$ 40 mil aos cofres públicos.

Enquanto parte dos ministros não dispensa a 1.ª classe, outros optam quase sempre pela Executiva, menos luxuosa e cara. É o caso de Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres), Aldo Rebelo (Esporte), José Eduardo Cardozo (Justiça), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Jorge Hage (CGU), responsável pelo controle interno do governo. Eles não gostam muito de fazer comparações entre suas escolhas e a dos colegas da área econômica. 

Uma viagem na 1.ª classe pode custar quase o dobro de uma viagem na classe Executiva. Num trecho longo, como Brasília-Dubai, a Fly Emirates cobra, por exemplo, R$ 22,8 mil ida e volta na classe Executiva. Na 1.ª classe, esse valor chega a R$ 41,3 mil.

Os dados sobre as viagens dos ministros estão disponíveis em sites de transparência do governo. O levantamento não inclui as viagens ao exterior em jatos da Força Aérea – opção ainda mais cara e muito usada – e as do Itamaraty, que não divulga gastos. 

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“Não existe dispositivo legal que vede a autoridade de optar por classe inferior”, diz a Controladoria-Geral da União (CGU). Uma portaria do Ministério do Planejamento afirma que o critério para a emissão deve ser o “menor preço, prevalecendo, sempre que possível, a tarifa em classe econômica”. 

A redução de custos com viagens foi uma prática adotada por grandes empresas a partir de 2009, período crítico da crise mundial. Vieram exemplos também da aristocracia: o príncipe William, herdeiro do trono inglês, anunciou que passaria a voar apenas na econômica.

O primeiro escalão de Dilma destaca que, como estão previstas no decreto de 2000, não há o que ser explicado a respeito da prática.

O Banco Central destaca que voar na área mais nobre do avião assegura às autoridades “o adequado exercício das atribuições”. O BC diz que a prática está “em consonância com a legislação brasileira e com o tratamento dispensado também por outros países para autoridades semelhantes, a demonstrar o aspecto protocolar da medida”. Acrescentou que as viagens ao exterior são realizadas “em observância à estrita necessidade de serviço e permitem a participação do Brasil nos mais importantes fóruns internacionais ”. 

Mantega e Pimentel apenas destacaram que seguiram e seguem a legislação.

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