Receitas diferentes para crescer o bolo

Mercadante e Armínio travam duelo particular ao apontar razões para baixo PIB e caminhos para aliar desenvolvimento e inclusão social

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Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - Se esta eleição é a mais polarizada desde a redemocratização, o debate econômico contribui muito para isso, ainda que Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e seus principais conselheiros no setor declarem um mesmo objetivo: iniciar um sempre ambicionado ciclo de desenvolvimento sustentável, sem abrir mão da inclusão social e da distribuição de renda. O que difere a petista e o tucano e esquenta seus embates são as causas do atual momento de baixo crescimento e os caminhos para sair desse cenário.

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Escolhidos como porta-vozes das duas candidaturas, o ministro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil do governo Dilma, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, já escolhido titular da Fazenda em caso de vitória de Aécio, travaram uma batalha particular. O primeiro apontou problemas do passado para dizer que o futuro com os tucanos será ruim. O segundo atacou as mazelas do presente para pregar a necessidade de mudança. Não faltou munição para nenhum deles.

O PT se coloca como realizador das conquistas sociais e dirige seu discurso econômico para os principais beneficiados de suas políticas, como a chamada nova classe média. O governo propõe manter o princípio de não sacrificar emprego e renda.

“Hoje, as políticas sociais estão ameaçadas”, reagiu Armínio, numa tentativa de atrair o mesmo público. Os tucanos acusam o governo de ter paralisado a economia por erros na condução do País e dizem que, sem crescimento, pode não haver arrecadação suficiente para bancar as políticas de aumento do salário mínimo e os programas sociais.

A equipe de Aécio acredita que, vencendo as eleições, poderá mudar rapidamente o humor do mercado, insatisfeito com o atual governo. O plano é mostrar como reorganizar as contas públicas, baixar os juros e dar mais condições de competição para as empresas - por exemplo, com a reforma tributária e com a ampliação da infraestrutura. 

Arrocho. Enquanto isso, os conselheiros de Dilma dizem ter mais foco na manutenção dos índices de emprego e renda. “O que o Armínio está propondo agora, a não ser o arrocho?”, atacou Mercadante. Ele argumenta que o PSDB vende a mesma receita do fim dos anos 1990, executada pelas mesmas pessoas. De onde conclui que o resultado seria o mesmo: desemprego e retrocesso social. 

“O arrocho já está feito”, rebateu Armínio. No PSDB, há a convicção de que o governo maquiou uma série de problemas. Para eles, a inflação é maior do que aparece nos dados oficiais, porque há preços represados, como o da gasolina e o do câmbio. E a real situação das contas públicas é pior do que mostram os números. Nesse quadro, um ajuste seria inevitável. 

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Os petistas creditam o baixo crescimento à crise internacional que, segundo disse Mercadante em entrevista ao jornal Valor Econômico, atingiu as economias centrais, como Europa e Estados Unidos, e não as da periferia (como México, Tailândia e Rússia) como no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

“Hoje, as políticas sociais estão ameaçadas. Numa economia que cresce, que não tem subsídio a quem não precisa, todos esses programas vão aumentar” - Armínio Fraga

“A crise acabou há cinco anos”, rebateu Armínio em debate com o ministro Guido Mantega (Fazenda), na GloboNews. Para ele, a ideia de crescer com cortes nos tributos de setores selecionados e crédito subsidiado a grandes empresas deu errado. “Vivemos um quadro desolador”, disse ao Estado, ao comentar a atual crise da indústria.

A principal linha de defesa do governo é que, se não fossem essas medidas, a economia estaria pior e haveria mais desemprego. E a política de desenvolvimento de Dilma, diz Mercadante, tem o social como eixo central. 

Os tucanos alegam que o saldo dessa conta não tem sido positivo. Para Armínio, o governo vai gastar com os subsídios nos empréstimos concedidos pelo BNDES a grandes empresas o equivalente ao total de gastos do Bolsa Família, somado a 80% do Minha Casa, Minha Vida. 

Em resposta, os petistas apontam que os adversários têm interesse em reduzir o papel dos bancos públicos. Mercadante tem usado uma reportagem de em 2002 para dizer que os tucanos tentaram privatizar Caixa, Banco do Brasil e Banco da Amazônia. Armínio e FHC negam a informação.

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