PSDB quer tratar mensalão mineiro como caso 'atípico'

Executiva tucana define hoje linha de defesa do partido; ordem é deixar Azeredo se defender e não confrontar decisões do Judiciário

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Debora Bergamasco , João Domingos e Pedro Venceslau
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BRASÍLIA  - Constrangida pela decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de pedir a condenação do deputado federal e ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB-MG) a 22 anos de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro na ação penal do mensalão mineiro - que tramita no Supremo Tribunal Federal -, a cúpula do PSDB aproveitará hoje a reunião de sua executiva, em Brasília, para definir uma linha de defesa e como tratar o ex-governador. Os principais dirigentes da sigla descartam, por enquanto, organizar qualquer tipo de manifestação pública de desagravo ao político mineiro. Apesar das declarações pontuais de apoio dos últimos dias, os tucanos vão manter distância do julgamento de Azeredo e deixá-lo sozinho em sua defesa judicial. A expectativa na legenda é de que o caso seja concluído entre junho e julho, justamente no momento das convenções partidárias que oficializarão as candidaturas. Se for condenado, o ex-governador será isolado pela legenda. Se absolvido, disputará uma vaga de deputado federal por Minas. "Não vamos cair na esparrela do PT de ir para o confronto com o STF", diz o deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e um dos mais próximos interlocutores de Aécio. Impacto. Ninguém duvida, no partido, de que o caso será usado pelos petistas para anular o discurso da ética e eventuais referências ao mensalão. Mesmo assim, os tucanos minimizam possíveis danos colaterais na campanha de Aécio. "O impacto eleitoral será zero. Lula foi eleito em plena crise do mensalão", lembra Pestana. Depois da reunião de hoje, os quadros regionais do partido serão orientados a bater na tecla de que não há como comparar os dois "mensalões". O argumento central, segundo o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), vice-presidente da sigla, será que o episódio de Minas trata da legalidade no patrocínio de eventos que são tradicionais: "Não há como comparar isso com a compra mensal de apoio político". O presidente do partido e provável candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves (MG), repetiu ontem em visita ao Rio o mesmo discurso que fez no fim de semana durante sua passagem pelo interior de São Paulo. "O senador é conhecido e reconhecido em Minas Gerais como um homem de bem. Ele vai ser julgado e nós, do PSDB, vamos respeitar a decisão do Supremo Tribunal Federal. Mas obviamente vamos esperar que ele possa se defender." Vice-presidente do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR) segue na mesma linha. "Acredito que, se houver condenação, haverá exploração política, na tentativa de atrapalhar a campanha do PSDB. Mas nós não temos medo, porque não atinge o senador Aécio Neves, que é candidato à Presidência." Assim como Cunha Lima, ele afirma que considera o caso de Azeredo diferente do mensalão do PT. "O mensalão do PT foi revelado, fizemos várias CPIs (dos Correios e do Mensalão) no Congresso para investigar o caso e apuramos muita coisa, que acabou sendo usada pela Procuradoria-Geral da República na denúncia", observou. "No caso mineiro, o PT nunca trouxe o problema para o Congresso. Não foi feita nenhuma CPI. Se o PT sabia que havia um escândalo lá, por que não fez a denúncia? Se sabia e não fez a denúncia o partido prevaricou", disse Dias. Cunha Lima reconhece que o assunto mensalão mineiro é um constrangimento para o partido, mas diz que será inevitável tratar do tema na reunião da executiva, que acontece na manhã de hoje, na sede da agremiação em Brasília. "Não podemos fingir que nada está acontecendo. É um assunto constrangedor, mas precisamos conversar sobre ele." Na ação contra Azeredo, que recebeu o nome de AP 536 (a do PT foi AP 470), é apurada a denúncia de desvio de dinheiro público durante a campanha de reeleição de Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998. Ele é acusado por peculato e lavagem de dinheiro. De acordo com a PGR, o então candidato teria se beneficiado de recursos oriundos de um esquema que envolveu a empresa de publicidade SMPB, de propriedade de Marcos Valério. / COLABOROU ROBERTA PENNAFORT

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