Petrobrás ligou 228 vezes para Costa depois que ele deixou estatal, indica investigação

Segundo os dados, as ligações partiram de oito números em nome da Petrobrás no Rio, sede da estatal, Salvador e Macaé, para dois números de Costa no Rio e na cidade do interior fluminense

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Por Fabio Fabrini e Andreza Matais
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O ex-diretor cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro como parte de um acordo de delação premiada Foto: Dida Sampaio/Estadão

Atualizada às 00h31

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Brasília - Acusado de comandar um esquema de corrupção na Petrobrás, Paulo Roberto Costa manteve frequentes contatos com a estatal mesmo após deixar o cargo de diretor de Abastecimento, em 27 de abril de 2012, conforme indicam dados das quebras de seu sigilo telefônico. 

Mesmo sem vínculo formal, Costa recebeu ao menos 228 ligações de telefones da companhia entre maio daquele ano e 20 de março de 2014, quando foi preso pela Polícia Federal, durante a Operação Lava Jato. De um ramal da companhia em Macaé (RJ), foi feita, no dia da prisão, uma ligação de 14 minutos. 

Segundo os dados, obtidos pelo Estado, as ligações partiram de oito números em nome da Petrobrás no Rio de Janeiro, sede da estatal, em Salvador e em Macaé, para dois números de Costa no Rio e na cidade do interior fluminense. 

O ex-diretor cumpre prisão domiciliar no Rio desde quarta-feira, como parte de um acordo de delação premiada. Em troca de redução de pena, ele deu detalhes do esquema de corrupção na Petrobrás e aceitou devolver recursos recebidos de forma ilícita no exterior. À PF e ao Ministério Público Federal (MPF), Costa admitiu ter recebido propina na compra, pela estatal, da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e afirmou que fornecedores da petrolífera pagavam “comissão” para conseguir contratos arranjados. 

A maioria dos telefonemas listados nas quebras de sigilo foi feita da Petrobrás em Macaé, onde a companhia mantém plataformas de extração de petróleo. O Estado telefonou para todos os números da estatal indicados nos documentos, mas na maioria dos casos as ligações não se completaram. As identificadas foram feitas de telefones gerais, como Central de Atendimento da estatal, e do setor de Exploração e Produção da Petrobrás no Rio. 

Os relatórios listam ainda 16 telefonemas da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás, feitos para o genro de Costa, Márcio Lewkowicz. O número de origem é geral, da portaria da sede da Petros. 

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A reportagem enviou os números relacionados nos documentos para a Petrobrás, que não respondeu, até esta edição ser concluída, aos questionamentos sobre quais são os usuários dos ramais e a quais departamentos eles pertencem. 

Sob elogios. Costa renunciou à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás em 27 de abril de 2012, sob elogios do Conselho de Administração, que destacou seus “relevantes serviços prestados à companhia”. Em seguida, abriu empresas que, segundo a Polícia Federal, eram usadas para desvio de recursos da petrolífera.

Em delação premiada, após ser preso pela PF, Costa contou que um consórcio de empresas obteve contratos na Petrobrás mediante o pagamento de 3% sobre os negócios. Parte deste dinheiro era repassada a políticos, segundo os depoimentos. Os recursos eram lavados pelo doleiro Alberto Youssef, acusado de operar um esquema que teria movimentado R$ 10 bilhões. 

Como o Estado noticiou em 16 de setembro, o doleiro também recebeu ligações da Petrobrás. Elas partiram de um celular corporativo da empresa, que se nega, desde então, a identificar o histórico de usuários da linha. 

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