Pesquisas mostram que 'palanques' estaduais não ajudam presidenciáveis

Levantamentos nos Estados revelam desconexão entre as eleições para governador e para presidente; favoritos nas disputas locais, como Alckmin (SP), Perillo (GO) e Paulo Souto (BA), veem a maior parte de seu eleitorado apoiar rivais no plano federal

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Por Daniel Bramatti
Atualização:

A cada eleição presidencial, o ritual se repete. Na preparação das campanhas, os concorrentes ao Palácio do Planalto fazem acordos com candidatos a governador, em busca de votos nos Estados. O processo, chamado de "formação de palanques", até no nome evoca uma forma antiga de fazer política, da época em que os comícios eram relevantes nas corridas eleitorais. É como se houvesse um rebanho passivo de eleitores, pronto a seguir a orientação dos caciques regionais. As pesquisas e as urnas, porém, mostram que é um mito a existência do "voto casado" para governador e presidente. A desconexão entre "palanques fortes" e intenção de voto pode ser observada em quase todas as pesquisas Ibope nos Estados. Dilma Rousseff (PT) lidera com taxas similares em Estados do Nordeste onde não tem palanque (Paraíba, 53%) e onde todos os candidatos fortes a governador a apoiam (Ceará, 56%). Aécio Neves (PSDB) está em terceiro lugar mesmo onde os favoritos ao governo são tucanos (São Paulo, Goiás, Paraíba). E Marina Silva (PSB), com rede quase inexistente de apoio nos Estados, está quase no segundo turno. O Pará é um território quase perfeito para avaliar o peso dos palanques estaduais no voto para presidente. A disputa local está polarizada entre um candidato que apoia Aécio (Simão Jatene, do PSDB) e um aliado de Dilma (Helder Barbalho, do PMDB, que concorre coligado ao PT). Os dois estão empatados tecnicamente. Se houvesse conexão entre voto estadual e federal, os paraenses pró-Jatene votariam mais em Aécio, e os barbalhistas se alinhariam a Dilma. Mas não é isso o que acontece. Os eleitores de ambos se dividem quase na mesma proporção entre os presidenciáveis do PT, do PSDB e do PSB (veja quadro). Pela lógica dos palanques, o tucano Jatene seria "dono" de quase metade do eleitorado do Pará, e poderia transferir esse patrimônio a seu candidato a presidente. No mundo real, apenas 14% dos jatenistas votam em Aécio. A maior parte (46%) opta por Dilma, e 35% escolhe Marina. No eleitorado de Helder Barbalho, a sequência é a mesma: Dilma (51%), Marina (31%) e Aécio (11%).Lógica. São Paulo é outro exemplo. Geraldo Alckmin (PSDB) é o detentor do palanque mais poderoso do Brasil: além de governar o maior colégio eleitoral do País, ele é favorito disparado a se eleger no 1º turno. Com o apoio da máquina alckmista - e com um vice paulista, Aloysio Nunes -, Aécio esperava vencer no Estado com larga margem. O problema é que apenas um em cada quatro eleitores de Alckmin pretende votar no candidato do PSDB a presidente. Outros 25% ignoram a polarização entre PT e PSDB e declaram voto em Dilma. E a maior parte dos alckmistas (41%) opta por Marina. Levando-se em conta o eleitorado total, um em cada cinco paulistas pretende votar no atual governador e na presidenciável do PSB, formando a chapa "Geraldina". Mesmo quando Eduardo Campos era o candidato do PSB a presidente, a lógica dos palanques não funcionava em São Paulo. Em julho, Alckmin já era líder disparado, com 50% das intenções de voto, mas Aécio estava atrás de Dilma no Estado (25% a 30%). Em Goiás, o governador e candidato à reeleição Marconi Perillo (PSDB) é um dos maiores adversários do PT. Isso não impede que 36% de seus eleitores declare voto em Dilma, taxa superior aos 26% favoráveis a Aécio. O presidenciável do PSDB, em tese, teria também o palanque mais poderoso do Nordeste. Na Bahia, o favorito é Paulo Souto (DEM), aliado de Aécio, mas só 16% de seus eleitores votam no tucano para presidente, e quatro em cada dez optam por Dilma. Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, ressalta que o apoio de um candidato a governador a um presidenciável não provoca transferência de votos nem mesmo quando os dois "parceiros de palanque" são do mesmo partido. "Com tantos partidos, o eleitor não consegue diferenciar um do outro e por isso a identificação partidária é baixa. Na hora de decidir o voto, ele considera o candidato, e não o partido e suas respectivas coligações. O eleitor não decide com esta lógica", disse.

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