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Para juízes e analistas, colocar a Justiça na ‘caixinha’ é um risco

‘O mundo político precisa entender que o país precisa e quer trilhar outro caminho’, avalia Fausto De Sanctis, desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

As declarações do candidato à Presidência do PDT nas eleições 2018, Ciro Gomes, de que é necessário restaurar a autoridade do poder político”, fazendo com que juízes e o Ministério Público voltassem para suas “caixinhas”, foi criticada por juízes e analistas nesta quarta-feira, 25. Para eles, as falas do pedetista põem em risco a independência do Judiciário.

“Isso faz parte da reação de parte da política ao trabalho de juízes independentes. O mundo político precisa entender que o país precisa e quer trilhar outro caminho”, avalia Fausto De Sanctis, desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

'O mundo político precisa entender que o país precisa e quer trilhar outro caminho', avalia Fausto De Sanctis, desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região Foto: JB NETO/AE

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Em entrevista concedida ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês, publicada pelo Estado na terça-feira, 24, o candidato do PDT afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, só teria chance de sair da cadeia se ele (Ciro) fosse eleito.

"Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político", afirmou Ciro.

Ciro tentava explicar a estratégia do PT em insistir na candidatura de Lula — mesmo após a condenação em segunda instância da Justiça e prisão.

Durante o quinto fórum da série A Reconstrução do Brasil, inspirada em um conjunto de reportagens publicado pelo Estado entre setembro de 2016 e janeiro de 2017, as declarações repercutiram. O promotor do Ministério Público de São Paulo, Marcelo Mendroni, se contrapôs ao comentário do candidato do PDT, Ciro Gomes.

"Acho, no mínimo, antiética uma declaração desse de uma pessoa que é candidato a presidente da República. Ele quer dizer o que? Que vai controlar o poder judiciário? Afrontando a independência do poder judiciário. De que jeito ele pretende fazer isso? É uma afirmação que ele tem que explicar melhor o que ele quis dizer. No meu modo de ver, é uma declaração, no mínimo, antiética e imoral", disse.

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Para a economista Maria Cristina Pinotti, há um flerte com o autoritarimo.

“Se ele fizer isso, ele segue o caminho da Venezuela e de outros países totalitários. Mas parto da hipótese que o Brasil já escolheu a via democrática”, diz a economista.

Para o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP), Victor Hugo Palmeiro de Azevedo Neto, além de revelar grave ameaça, as palavras do pré-candidato são consideradas um ataque à instituição, à sociedade e ao Estado Democrático de Direito, ferindo de morte a Constituição Federal que deu autonomia e independência ao Ministério Público, e reservou-lhe a função de defender a ordem jurídica, a democracia e de garantir a efetividade dos direitos sociais e individuais. 

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