O anão, a fuga-surpresa e o acordo negado

Crise diplomática com Israel não foi o único e nem o pior problema enfrentado pela diplomacia brasileira no governo Dilma Rousseff

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Por Lisandra Paraguassu
Atualização:

A recente crise diplomática com Israel, em que um assessor chamou o Brasil de “anão diplomático” em reação às críticas de Brasília aos ataques a Gaza, não foi o único e nem o pior problema enfrentado pela diplomacia brasileira no governo Dilma Rousseff. Bem mais sério foi o caso do refúgio concedido ao senador boliviano Roger Pinto Molina, em agosto de 2013. 

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A fuga de Molina de dentro da Embaixada brasileira em La Paz, com ajuda do diplomata Eduardo Saboia, custou o cargo ao então chanceler Antonio Patriota e deixou Brasília com um enorme problema nas mãos. Até hoje, a sindicância que investiga a ação de Saboia - que armou a fuga à revelia do Itamaraty - não foi concluída. Resultado: o Brasil não tem ainda um embaixador em La Paz, já que a Comissão de Relações Exteriores se recusa a aprovar a indicação de Raymundo Rocha Magno até ter garantias de que Saboia não será punido. 

A crise com Israel teve seu epílogo na semana passada, quando o Brasil autorizou a volta do embaixador Henrique Sardinha Pinto a Telavive, mas o episódio abalou a relação entre os dois países. Enquanto os israelenses se irritaram com o tom da condenação aos ataques à Faixa de Gaza, os brasileiros ficaram ofendidos com a frase do porta-voz israelense Yigal Palmor - que não se desculpou. 

Também não vieram desculpas do presidente Barack Obama. Mesmo reconhecendo que sua National Security Agency (NSA) não deveria ter espionado aliados, Obama não se retratou nem a NSA deu ao Brasil acesso à sua estrutura de coleta de informações. 

No entanto, a maior decepção recente do Itamaraty foi a reação dos EUA ao acordo obtido por Brasil e Turquia com o Irã, que em 2010 havia concordado em enriquecer seu urânio no exterior. O acordo atendia a um pedido de Obama, feito ao ex-presidente Lula em uma carta que o Itamaraty não se cansa de exibir. No entanto, com o tratado assinado, em maio de 2010, os EUA voltaram atrás e denunciaram a ação brasileira como “ingenuidade”. No final de 2013, quando o mesmo acordo foi fechado com os Estados Unidos e União Europeia, o governo Itamaraty comemorou, mas fez questão de lembrar que três anos foram perdidos. 

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