Joice não emplaca ‘direita raiz’, mas reposiciona PSL

Após sigla romper com Bolsonaro, candidata se reinventa e segue voo próprio na política sem retaguarda do clã presidencial

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Por Pedro Venceslau
Atualização:

Eleita deputada federal em 2018 em com mais de 1 milhão de votos na onda bolsonarista, a jornalista Joice Hasselmann, 42, costuma dizer que sua candidatura à Prefeitura de São Paulo faz parte de uma estratégia de reposicionamento do PSL após o rompimento da legenda com o Palácio do Planalto.

Joice diz que sofreu pressão do próprio partido para ser companheira de chapa de Bruno Covas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Com um teto 3% nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora, Joice não conseguiu emplacar o mote de que representa a “direita raiz”, mas chega na reta final do primeiro turno com pelo menos uma missão cumprida: conseguiu se reinventar e ganhou musculatura para seguir voo próprio na política sem a retaguarda do clã Bolsonaro.

“A Joice sai dessa campanha como um nome nacional e maior protagonista do PSL. O maior partido de direita do País não podia ficar fora da disputa na capital”, disse o deputado federal Junior Bozella, presidente do PSL paulista e coordenador político da campanha. O parlamentar lembra que os outros dois nomes da legenda que poderiam ocupar espaço declinaram: o senador Major Olímpio e a deputada estadual Janaina Paschoal.

O dirigente do PSL avalia que o bolsonarismo saiu menor da campanha municipal e acredita que a ala do partido que prega a reaproximação com o presidente da República perdeu força. Com uma campanha que custou R$ 5,9 milhões, dinheiro 100% oriundo do Fundo Eleitoral, Joice acionou uma metralhadora giratória na campanha.

Atacou o prefeito Bruno Covas (PSDB), o clã Bolsonaro, o ex-governador Márcio França (PSB) e até mesmo o amigo e aliado João Doria (PSDB), que não guarda mágoas. “Nós nos damos muito bem. Tenho estima e amizade pessoal por ela”, disse o governador ao Estado.

Em entrevista ao Estadão feita em seu apartamento em Higienópolis, bairro nobre da capital, a deputada federal falou sobre os movimentos que precederam o lançamento de sua candidatura e disse que houve uma forte articulação encabeçada por Doria para que ela fosse vice na chapa de Bruno Covas.

“Foram 9 reuniões com o João (Doria) para tratar do assunto. Tentaram me convencer a ser vice do Bruno e me ofereceram todo o espaço que eu quisesse na administração. O PSDB começou conversar comigo antes do Bruno ser candidato. Estava aquela dúvida por causa do tratamento. Falei para eles com toda franqueza: não acredito no projeto do PSDB para São Paulo, embora goste do Bruno. A gente já foi para a balada junto”, disse a candidata do PSL.

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Ela disse, ainda, que sofreu pressão “até do partido” para ser companheira de chapa de Bruno Covas.

A campanha de Covas confirma as conversas, mas nega que ela tenha sido convidada para ser vice do tucano. O maior entusiasta da tese de unir Covas e Joice foi Doria, mas a ideia não prosperou. “Nos encontramos no apartamento do Wilsinho (Wilson Pedroso, coordenador da campanha de Covas e chefe de gabinete de Doria). A conversa foi amistosa. Bruno disse: “Seria um tiro de canhão a nossa chapa. Me fala o que você quer pra ficar com a gente. Tomei três cafés”, disse Joice. 

A deputada tornou-se uma referência entre os ativistas de direita quando assumiu um discurso raivoso antipetista quando era jornalista da revista Veja em São Paulo. Sua posição chamou atenção dos grupos que lideraram o movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Ao abraçar o ativismo, começou a frequentar os carros de som do MBL, Vem Pra Rua e Nas Ruas na Avenida Paulista.

Foi assim que caiu nas graças dos Bolsonaro e foi convidada a entrar na política. A ideia inicial era que disputasse o Senado, mas acabou tentando uma vaga na Câmara para acomodar interesses internos do partido. Depois de eleita assumiu a liderança do governo na Câmara e tornou-se uma das vozes mais influentes do Congresso Nacional, até entrar em rota de colisão com os filhos do presidente. 

“O ego do Bolsonaro foi crescendo. Hoje ele só escuta os filhos. Ele queria que eu defendesse 'o meu menino” todos os dias”, disse a deputada.

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