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Jair Bolsonaro: colecionador de polêmicas

Por Wilson Tosta
Atualização:

RIO - Todo dia é dia de "direita, volver" para o militar da reserva e deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) - especialmente quando está em campanha eleitoral. Postado na esquina da Estrada do Portela com a Rua Dagmar da Fonseca, em Madureira, no subúrbio do Rio, o parlamentar mistura a pose de sentinela com sorriso amplo e opiniões polêmicas para tentar o sétimo mandato na Câmara.

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É cumprimentado por eleitores nos intervalos da entrevista em que ataca o Bolsa Família, a Lei da Palmada, a Comissão Nacional da Verdade, o Decreto 8243 (que cria conselhos populares), os direitos humanos, a demarcação de terras indígenas e o governo Dilma Rousseff.

Bolsonaro, de 59 anos, começou na política em 1988, como vereador no Rio. Era capitão do Exército. Em 1990, elegeu-se deputado federal. Inicialmente, representava o movimento corporativo das Forças Armadas por salários. Logo incorporou uma agenda conservadora ampla, alinhando-se sempre à direita.

Rejeita doações: diz fazer campanha com recursos próprios e do partido, que, este ano, lhe deu R$ 200 mil para essa finalidade. Declarou à Justiça Eleitoral ter bens que somam R$ 2.074.692,43 - 150% a mais que os R$ 826.670,46 declarados em 2010.

O parlamentar é bélico com os inimigos da lista de temas polêmicos. Os conselhos populares, por exemplo, são "os sovietes", a Lei da Palmada "é uma interferência do Estado na educação dos nossos filhos", a Comissão de Direitos Humanos é "voltada para defender a vagabundagem". Quanto aos direitos dos homossexuais, Bolsonaro é enfático. "Não posso admitir que o filho dele (aponta para o fotógrafo do Estado) receba uma carta dizendo que é normal dois homens e duas mulheres." Sobre o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), ele o considera "um zero à esquerda".

Na conversa, Bolsonaro diz que votará no 1.º turno em Aécio Neves (PSDB) e, no 2.º turno, votaria até em "Fernandinho Beira-Mar". Mas torce o nariz para Marina Silva (PSB). "É uma esquerdinha."

Inquéritos. No Supremo Tribunal Federal, tramitam dois inquéritos contra o deputado. Um é por crime ambiental. Foi aberto porque o deputado foi flagrado pescando na Estação Ecológica de Tamoios, entre os municípios de Angra dos Reis e Paraty, no Rio, em 2013. O outro envolve racismo. Trata da sua polêmica com Preta Gil, que lhe perguntou no programa CQC, da TV Bandeirantes, o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma negra. Respondeu que não discutiria "promiscuidade" com ela.

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Em sua defesa, o deputado alega, no primeiro caso, que tinha um documento do Ministério da Pesca liberando a pesca artesanal naquela região. Sobre a acusação de racismo, sustenta que houve edição de sua fala. A fita bruta teria sido apagada. Procurada, a emissora afirmou que não comentaria o episódio. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o arquivamento do caso.

Ainda em sua defesa da acusação de racismo, Bolsonaro lembra o caso do recruta negro Celso Moraes Luiz, o Negão Celso. Ele conta tê-lo salvado de morrer afogado durante um exercício militar, em 1978, em Gericinó, no Rio. Pelo feito, o deputado requereu no ano passado a Medalha do Pacificador com Palma, concedida a militares que se expuseram a risco de vida. "Eu adoraria tê-la recebido por causa do Araguaia", dispara.

Há ainda um processo indenizatório no Fórum de Madureira, movido por entidades do movimento LGBT. Elas acusam o deputado de homofobia. Pedem R$ 1 milhão de indenização. O parlamentar conta que já sofreu "dezenas" de ações parecidas. Livrou-se da maioria.

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