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Imagem de Campos dita os rumos em Pernambuco

Memória do principal líder do Estado, morto em 13 de agosto, foi evocada sem pudores na campanha, até mesmo pelos rivais

Por Erich Decat
Atualização:

RECIFE - Nos jingles, nos panfletos e adesivos, em bonecos gigantes e em especial nos discursos, a presença do ex-governador Eduardo Campos foi tão maciça quanto foi impactante sua morte em um acidente aéreo, em 13 de agosto, em Santos (SP). O grupo político do ex-presidente do PSB soube transformar a perda de seu líder e a comoção entre os eleitores em combustível para manter a hegemonia no Estado.

Câmara valeu-se da comoção em torno de Campos e lidera corrida ao governo Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

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Na disputa pelo governo estadual, o escolhido de Campos, Paulo Câmara (PSB), virou o placar contra Armando Monteiro (PTB) - aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff - em meados de setembro e só ampliou a vantagem de lá para cá. No dia do acidente, o candidato do PTB tinha 34 pontos de vantagem sobre o rival.

O concorrente da chapa do PSB ao Senado, Fernando Bezerra, levou mais tempo, mas reverteu a vantagem do petista João Paulo, ex-prefeito do Recife, na véspera da votação. No último comício da coligação, realizado quinta-feira no centro do Recife, o ex-ministro expôs em seu discurso a tática que sintetiza o espírito da campanha: uma conversa como se Campos estivesse vivo.

“Eu me recordo, meu amigo, daquela carreata em Garanhuns quando você via a empolgação do povo, vindo de Alagoas, e na sua alegria esfuziante batia na capota da caminhonete e dizia: ‘Fernando, quando eu sentar naquela bancada do Jornal Nacional vai começar a campanha, o Brasil vai me conhecer e eu vou fazer pelo Brasil o que fiz por Pernambuco’’’, discursou Bezerra. Campos morreu na manhã seguinte à participação no telejornal de maior audiência do País.

Família. Além dos discursos, os candidatos da Frente Popular puderam contar com a família Campos como cabos eleitorais. A viúva, Renata, participou de atos da campanha quando a presidenciável Marina Silva (PSB) foi a Pernambuco e gravou vídeos de apoio aos candidatos.

Os filhos mais velhos, João, de 20 anos, e Pedro, de 18, revezaram-se nos palanques, sob olhar de aprovação da mãe. O primogênito chegou a ser cotado para sair candidato neste ano, mas o pai adiou sua estreia nas urnas para depois da conclusão dos estudos. Mas já nesta disputa eleitoral, ambos começaram a tomar gosto pelos discursos públicos e pedidos de votos.

“Vocês já estão prestando uma grande homenagem ao meu pai, prestaram durante toda esta campanha, estão prestando hoje’’, disse Pedro na quinta-feira a uma plateia de militantes na Praça da Independência. “Estão prestando homenagem saindo com a camisa amarela, pedindo voto de porta em porta e no dia 5 de outubro essa homenagem vai chegar ao ponto alto, quando vocês sentarem ali de frente para a urna.’’

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Não há sinais explícitos de que os jovens seguirão a carreira do patriarca, mas as entrelinhas começam a abrir uma trilha política para os herdeiros de Campos. “Quero dizer para o meu pai que ele fique tranquilo, porque enquanto minha família estiver aqui, a sua bandeira jamais estará a meio mastro’’, disse João na segunda-feira, ao dividir palanque com Marina.

Os discursos dos aliados de Campos fazem eco em eleitores como Antônio Queiroz, que há seis anos roda com seu táxi pelo Recife. “Eu não ia votar em ninguém, mas depois que caiu o avião vou votar neles, porque aquilo foi coisa de doido.”

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