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Flavio Dino, do PC do B, é eleito governador no Maranhão

Primeiro governador comunista eleito no País, Flávio Dino venceu no 1º turno o candidato do tradicional grupo político do Estado

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Por Leonencio Nossa
Atualização:
Candidato do PC do B conseguiu grande diferença para segundo colocado, Lobão Filho, do PMDB Foto: Sérgio Castro/Estadão

Flávio Dino, um ex-juiz federal de 46 anos, do PCdoB, venceu, em primeiro turno, a disputa pelo governo do Maranhão. Ele obteve 1,87 milhão de votos, um total de 63,5% dos válidos, derrotando Edison Lobão Filho, do PMDB, candidato do grupo do senador José Sarney, que recebeu 995 mil votos, porcentual de 33,7%. 

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Logo após o resultado das urnas, Dino afirmou que pretende colocar o Estado no “século 21”, sem “devassa” ou “inquisição” contra o grupo do senador José Sarney. Ele disse, no entanto, que não terá condescendência com irregularidades e denunciará possíveis desvios de recursos que aparecerem nas contas públicas. “Toda vez que encontrarmos algo errado, vamos denunciar, mas nunca com espírito de perseguição”, disse. “Nunca mais haverá oligarquia e coronelismo.”

Ao lado de Manoel Conceição Santos, 79 anos, o Mané da Conceição, figura histórica do movimento camponês, Dino ressaltou que o “espírito comunista e cristão”, alvo da campanha do grupo adversário, marcará seu futuro governo. “É um momento especial na política maranhense. Nosso Estado entra finalmente no século 21. Derrotamos para sempre o coronelismo. Foi o povo simples e humilde, normalmente sem vez e voz, que nos deu essa vitória”, disse.

Ao longo da campanha de uma coligação que incluiu o PSDB e outros oito partidos de diferentes correntes ideológicas e o apoio não oficial da militância petista da capital São Luís, Dino adotou a estratégia de atacar a “oligarquia” para neutralizar a máquina eleitoral do grupo adversário, que o acusou de querer instalar uma “ditadura comunista” no Palácio dos Leões. 

Uma ampla rede de emissoras de rádio e televisão do clã Sarney e seus aliados ainda fez ataques pessoais e divulgou denúncias falsas contra Dino feitas por presidiários. O candidato do PCdoB usou a prática e os jargões de sua experiência de 15 anos na Justiça Federal para questionar os peemedebistas e rebater a estratégia. “A marca do meu governo será restituir a cultura do direito e da legalidade no Maranhão”, disse. 

Numa entrevista de Dino à TV Mirante, da família Sarney, um apresentador leu trechos do estatuto do PCdoB e perguntou se Dino governaria sob as ordens do comitê central do partido. “Um governador não atua para pequenos grupos, partidos ou famílias”, contra-atacou o candidato, numa referência ao clã adversário. A uma pergunta se implantaria a “ditadura”, o candidato disse que não cabe a um governador mudar a Constituição Federal. 

O primeiro governador comunista eleito no País é filiado a um partido que voltou à legalidade em 1986, justamente por uma decisão de Sarney, então presidente da República. “É bom frisar que isto era um compromisso de Tancredo Neves”, observou Dino ao Estado. 

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Câmara. Militante do PT antes de exercer a magistratura, Dino procurou o PCdoB em 2006 para disputar uma cadeira na Câmara. Foi eleito com 120 mil votos, o que o credenciou para concorrer em 2008 à prefeitura de São Luís e em 2010 ao governo do Estado. Foi derrotado nas duas ocasiões. 

O governador eleito sempre teve boas relações com lideranças do PSDB e do PT. Na Câmara, tornou-se amigo pessoal do deputado petista e agora ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. 

Antes da abertura das urnas, a governadora Roseana Sarney admitiu a derrota do “grupo” para Dino. “Agora, a oligarquia vai sair de pauta”, disse, em tom irônico. Com domicílio eleitoral no Amapá, desde que deixou o Palácio do Planalto, em 1990, José Sarney passou todo o dia em Macapá. 

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