Estatísticos denunciam fraudes em pesquisas

Presidente do Conselho Regional de Estatística da 3. ª Região afirma que dados de profissionais foram usados sem a autorização deles

PUBLICIDADE

Por Guilherme Duarte ,  Rodrigo Burgarelli e  José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti
Atualização:

Pesquisas eleitorais da campanha municipal de 2016 foram registradas com dados falsos de estatísticos, segundo denunciam os próprios profissionais.

PUBLICIDADE

Doris Fontes, presidente do Conselho Regional de Estatística da 3.ª Região, afirma que nomes e números de registro de filiados à entidade aparecem em levantamentos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem que eles tenham participado de fato dos trabalhos. Ela própria teve seu nome utilizado em mais de 20 pesquisas realizadas pela empresa Bom Dia Rio Preto Comunicações. “Nunca na minha vida realizei pesquisa eleitoral”, ressaltou.

Outros profissionais relatam situações semelhantes. Renata Nunes César, do instituto Datafolha, afirma que seu nome e registro foram usados para o registro de uma pesquisa na cidade de Campo Limpo (MG), pela empresa Diário Em Dia. Ela afirmou nunca ter atuado em pesquisas fora do instituto em que trabalha. 

Maria Rita Lucas, do Instituto Statsoft, afirmou que seu instituto aparece nos registros do TSE como autor de três pesquisas eleitorais, embora não trabalhe com essa atividade. Além disso, os registros indicam o nome e número de um estatístico que é ex-funcionário do Statsoft, André Willy Castro. Ele afirmou que não realizou nenhuma das três pesquisas. 

Exigência. O Tribunal Superior Eleitoral exige que toda pesquisa eleitoral seja registrada em seu site antes de realizada, com os dados do contratante e do estatístico responsável. O tribunal, porém, “não realiza qualquer controle prévio sobre o resultado das pesquisas”, segundo informa seu site.

A descoberta das fraudes se deu porque, nas eleições de 2016, o TSE passou a permitir em seu site a consulta por nome e número de registro de estatísticos responsáveis por pesquisas. 

Identidades. No Maranhão, a empresa Ma+ Consultoria e Serviços usou dados falsos de um estatístico em um levantamento na cidade de Formosa da Serra Negra. O dono da empresa, Avenildo Aquino Pinto, foi preso por estelionato em março deste ano. Ele é alvo de inquérito policial por ter dois CPFs.

Publicidade

Nos registros do TSE, o nome do responsável pela pesquisa da Ma+ em Formosa da Serra Negra é “Lázaro Ramos de Andrade”, com o número de registro profissional 7941 – esse registro, porém, pertence a outro estatístico, Carlos Magno Machado, do Rio Grande do Norte. A Ma+ registrou uma segunda pesquisa em nome de Lázaro Ramos de Andrade, na cidade de Grajaú (MA), mas com outro número de registro profissional.

O Estado procurou contato com Aquino Pinto em sua empresa, mas ninguém atendeu os telefonemas.

O proprietário da empresa Bom Dia Rio Preto, Kleber Moreira, negou que as pesquisas tenham sido registradas sem o consentimento da estatística Doris Fontes e afirmou que ela foi contratada de fato para a pesquisa. Já o proprietário do Diário Em Dia, de Campo Belo (MG), Richard Pereira, não respondeu às ligações da reportagem, que também deixou recado no seu celular. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.