‘Eleitor de Marina não quer mudar para filme que eu já vi’, diz Wagner

Governador baiano afirma que ex-ministra não deveria ‘entregar patrimônio ético’ a Aécio’ e que ‘caminhada’ dela é mais próxima do PT

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Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse nesta terça-feira, 7, que a candidata derrotada do PSB, Marina Silva, vai colocar em risco sua biografia ao apoiar o tucano Aécio Neves no 2.º turno da disputa presidencial. “Marina tem uma caminhada muito mais próxima da gente do que da história do PSDB”, afirmou Wagner.

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Depois de eleger o sucessor na Bahia em 1.º turno, o ex-secretário Rui Costa (PT), o governador vai ajudar a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Surpreso com o aval ao tucano da ex-ministra, de quem foi colega de Esplanada no governo Lula, Wagner tentou amenizar a situação. “Uma coisa é a Marina apoiar o Aécio, e outra é o eleitor seguir”, afirmou. “Se Marina quiser entregar o seu patrimônio no campo da ética nas mãos do Aécio, o problema é dela, mas não me parece que o PSDB seja o melhor destinatário.”

Depois que o candidato do PT ao governo da Bahia foi eleito no 1.º turno, numa virada surpreendente, o sr. foi chamado para ajudar a presidente. O que vai fazer?

Vou ajudar na Bahia e onde for convocado. A presidente Dilma teve 3 milhões de votos de vantagem no Estado e acho que podemos chegar a 3,5 milhões. Eu sou bom de Bahia, então minha melhor contribuição é lá. Ela estará em Salvador na quinta-feira e vamos fazer uma subida ao Bonfim para agradecer os votos do 1.º turno. 

Jaques Wagner governou a Bahia por oito anos Foto: Ed Ferreira/Estadão

Marina Silva vai anunciar agora apoio a Aécio Neves. Como neutralizar esse revés?

A Marina tem uma caminhada muito mais próxima da gente do que da história do PSDB. Uma coisa é Marina apoiar o Aécio, e outra é o eleitor votar. A declaração dela não quer dizer o comando dos votos. É evidente que, do ponto de vista emblemático, há uma vantagem para quem receber o apoio de Marina. Mas ninguém conduz seus votos. A mudança defendida pelos eleitores da Marina é da forma de fazer política, é a negação dessas negociações de partido. A mudança que Aécio defende é o filme que já vi. 

O PSDB jogará luz, no 2º turno, sobre os escândalos de corrupção na Petrobrás. De que forma será a reação do PT a isso?

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Não é o Aécio nem o PSDB e o DEM que vão nos dar aula de ética. Vão reprisar o caso da Petrobrás? Para mim isso já está para lá de batido. As pessoas sabem que tanto o PT como o PSDB são partidos de homens e mulheres, que acertam e erram. Se o PSDB vier com uma destilaria de ódio em relação ao PT, eu não acho que a gente tenha de devolver com ódio, porque isso não levará ninguém a ganhar eleição. O povo não é besta. Se o cara ficar vendendo terra na lua e você olhar para o lugar que ele governou e não ver isso concretizado, não tem como não dizer que ele está falando bobagem. O PSDB não pode querer enganar o povo e dar uma de vestal, de partido dos honestos. Aliás, quem começou com essa história (de compra de votos) foi a clássica votação da emenda da reeleição do Fernando Henrique Cardoso. Eu era deputado e me lembro de ter visto realmente as coisas acontecerem na base do toma lá, dá cá. 

A oposição diz que a presidente não tinha como não saber o que se passava na Petrobrás, que o desvio na estatal pode ser arrecadação de campanha. 

Ninguém faz arrecadação de campanha antes. Pergunta ao PSDB como eles fazem arrecadação de campanha. É por isso que digo: se quiser sobreviver à democracia, ou se faz reforma política no ano que vem ou esquece. Eu nunca vi uma campanha tão ‘financeirizada” quanto essa. E cada dia vai ficar pior, porque generalizou. Tudo só funciona com grana. Tem que acabar com isso, tem que acabar com o balcão do tempo de TV dos partidos, tem que acabar com coligação proporcional. O PSDB defende essa tese? Além disso, ninguém aguenta ter eleição de dois em dois anos. Ou os próximos prefeitos serão eleitos por mandato tampão de dois anos ou será com mandato de seis anos. As eleições têm que coincidir. 

O sr. disse que o PT de São Paulo precisa ser reinventado. Recebeu reclamações por isso?

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Não. É óbvio que, nos lugares onde o desempenho do PT não foi bom, precisamos refletir sobre o que está acontecendo. A forma de a gente fazer política não está sendo bem vista? É preciso renovação de quadros? Temos de avaliar o que ocorreu. 

O desempenho do PT paulista foi ruim por causa do impacto do julgamento do mensalão?

Repare: como teve muita gente nossa de São Paulo que foi foco daquele processo todo, pode ser que tenha havido uma contaminação. É óbvio que pesa. Agora, o Fernando Haddad está na Prefeitura e teve aqueles problemas no ano passado, não sei se isso pesou também. O Padilha (Alexandre Padilha, candidato derrotado do PT ao governo de São Paulo) é um cara até bom. Ele não conseguiu ter o desempenho esperado ou isso é o sucesso do tucanato? Porque o Serra (José Serra, candidato ao Senado) também se elegeu lá, derrotando o Eduardo Suplicy. 

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O apoio do PMDB da Bahia a Aécio atrapalha a campanha da presidente no Estado?

O PMDB da Bahia acabou. Elegeu um deputado federal (Lúcio Vieira Lima), irmão do Geddel, elegeu quatro estaduais, dos quais um é totalmente ligado a Neto (prefeito de Salvador, ACM Neto). Eles apoiam o Aécio, mas saíram derrotados. Lá quem representava Marina é a Lídice da Matta, que tem muito mais contato com a gente do que com o outro lado. Então acho que na Bahia a gente pode crescer. 

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