PUBLICIDADE

Do 'Frangogate' ao cartel de trens

Uruguaio dirigiria offshores ligadas aos 2 casos

Por Fernando Gallo
Atualização:

Um personagem liga o cartel do setor metroferroviário no Estado de São Paulo ao chamado escândalo do Frangogate, que envolveu a compra de frangos suspeita de superfaturamento pela Prefeitura de São Paulo nas gestões do hoje deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) e de Celso Pitta.Trata-se do contador uruguaio Nicolas Juan Alonso, apontado pelo Ministério Público da Suíça como diretor de empresas offshores usadas pela francesa Alstom naquele país para pagar propina a agentes públicos no Brasil. Algumas delas, segundo o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, principal delator do cartel, também foram usadas pela multinacional alemã para praticar suborno.Para investigadores, as empresas eram controladas pelo consultor Arthur Teixeira, suspeito de ser o pagador de propina das multinacionais a agentes públicos e políticos do Estado de São Paulo. As offshores, como o Estado revelou, eram de fachada. Elas estiveram registradas no endereço do escritório Guyer y Regules, do qual Nicolas Juan Alonso é um dos sócios.O contador uruguaio também foi presidente de uma sociedade anônima chamada Inversora Rineos, que era dona de 46% de uma empresa ligada ao frangogate. Trata-se da A D'Oro, que vendeu 823 toneladas de frango à Prefeitura entre 1996 e 1997, totalizando R$ 1,4 milhão em valores da época. Essa empresa era de propriedade de Fuad Luftalla, irmão de Sylvia Maluf e cunhado do então prefeito.A gestão Maluf terminou em 1996. No ano seguinte. o prefeito era Celso Pitta, afilhado do hoje deputado.Como as offshores do cartel, a Rineos também era uma empresa de fachada. Não existia fisicamente, tinha tido por sete anos, no papel, um presidente que negava ter ocupado o cargo e não possuía capital suficiente para ter investido os US$ 7 milhões que colocou na A D'Oro.Sylvia Maluf e a filha do casal, Ligia, também foram envolvidas no escândalo porque, indiretamente, vendiam frango para a Prefeitura. Elas eram donas de uma empresa, a Obelisco, que era fornecedora da A D'Oro. A Obelisco vendia aves vivas à empresa do cunhado de Maluf, que as abatia, industrializava e revendia à Prefeitura.Além das relações familiares, para o Ministério Público também houve superfaturamento nas compras dos frangos.Maluf é réu em processo por improbidade administrativa. Na ação judicial gerada por causa do Frangogate, Maluf chegou a ser condenado, em 2010, pela 7.ª Câmara de Direito Público a devolver R$ 21,7 mil aos cofres públicos, bem como teve determinada a perda dos direitos políticos por cinco anos.Contudo, oito meses depois a mesma Câmara acabou absolvendo o deputado em votação por 3 votos a 2. O Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que analisa o caso.Em agosto de 1997, um mês após a publicidade das transações, Sylvia e Ligia liquidaram a empresa. Maluf disse que ela fora fechada meses antes porque "a granjinha dava prejuízo".Escritório. Em 1997, quando o escândalo veio à tona, descobriu-se que a sociedade anônima uruguaia Inversora Rineos havia injetado US$ 7 milhões na empresa do cunhado de Maluf. Na ocasião, a Folha de S.Paulo apurou que o contador Nicolas Juan Alonso figurava como presidente da Rineos. O repórter do jornal foi até a sede do escritório e de lá foi expulso por Alonso, que afirmou: "Podem escrever o que quiserem".O Estado também esteve no escritório no mês passado, mas não foi autorizado a entrar para falar sobre as offshores utilizadas pelo cartel de trens. Em nota, o escritório Guyer e Regules disse ter prestado serviços contábeis para as empresas, mas negou "participação nas sociedades além do meramente formal". Procurado novamente na sexta-feira, não respondeu sobre a Rineos.Maluf nega as acusações.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.