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Dilma defende ‘renovação’ na gestão do futebol; Aldo fala em ‘intervenção’

Dois dias após derrota do Brasil, governo federal defende mudanças na administração dos clubes e no calendário da modalidade

Por Ronald Lincoln Jr , Ricardo Galhardo , JAMIL CHADE e CLÁUDIA TREVISAN
Atualização:
Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em reunião no Palácio do Planalto, em 2013 Foto: André Dusek/Estadão - 17.10.2013

Atualizado em 11.07

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A presidente Dilma Rousseff defendeu em entrevista que foi ao ar nesta quinta-feira, 10, pela emissora americana CNN uma “renovação” no futebol brasileiro e criticou o fato de o País exportar seus craques. Seu ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi além e falou em “intervenção indireta” na organização da modalidade, algo que mexeria também nas gestões dos clubes e no calendário.

Apesar de a “modernização da estrutura do futebol” já estar na agenda de Dilma e do PT desde antes da acachapante derrota do Brasil para a Alemanha na terça-feira, o governo decidiu recorrer ao tema a fim de minimizar eventuais prejuízos eleitorais diante da eliminação do time nacional na Copa do Mundo.

Além disso, o Palácio do Planalto tenta separar a administração do torneio, considerada um sucesso, do desempenho da seleção em campo na semifinal.

“O Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios”, disse Dilma na entrevista gravada em Brasília. “Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do País há muito tempo.”

A defesa da renovação do futebol foi feita em resposta a uma pergunta sobre os elevados gastos com a Copa do Mundo – US$ 14 bilhões comparados a US$ 4 bilhões usados na África do Sul em 2010. A presidente afirmou que os estádios consumiram US$ 4 bilhões do total e comparou o valor aos US$ 850 bilhões gastos pelas três esferas do governo com saúde e educação entre 2010 e 2013. O restante dos recursos foram aplicados em obras que eram necessárias, como aeroportos, disse a presidente.

No Rio, o ministro do Esporte mirou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Rejeitou a ideia de que a entidade tem autonomia para fazer o que quiser sem participação estatal. “Claro que podemos fazer algo na CBF”, afirmou Aldo.

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A Fifa proíbe que governos promovam intervenção nas federações nacionais, sob a ameaça de expulsar o país das Copas. Mas o governo acredita que tem espaço para agir. “Eu sempre defendi que o Estado não fosse excluído por completo do futebol. É uma intervenção indireta”, disse o ministro, segundo quem há áreas de “interesse público” e uma mudança pode alcançar até mesmo a CBF.

“A Lei Pelé tirou do Estado qualquer tipo de poder de atribuição e poder de intervenção. Ela determinou a prática do esporte como algo privado, atribuição do mundo privado, e isso só pode ser modificado se a legislação também for modificada”, disse o ministro de Dilma, referindo-se à legislação aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso.

Ele disse que o governo não quer nomear cartolas. “Mas o Estado não pode ser excluído da competência de zelar pelo interesse público dentro do esporte. Dirigentes passaram a administrar o futebol sem qualquer atuação do Estado. Queremos retomar algum tipo de protagonismo no esporte. Não para indicar interventor. Mas para preservar o interesse nacional e o interesse público”, afirmou.

Trâmite. Parte das propostas que o governo pretende encampar a partir de agora já tramita no Congresso. “Queremos que os clubes assumam responsabilidades em relação à gestão. Que tenhamos condições de apoiar financeiramente esses clubes. São poucos que têm condições de recorrer à lei de incentivo ao esporte”, disse ele.

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Aldo ainda quer tratar das finanças dos times. “Queremos que os clubes façam uma renegociação da dívida, mas com duplo compromisso, de pagar a dívida passada e a futura. E sem atraso no pagamento de atletas”, defendeu o ministro.

Outro ponto é o de impedir a saída de jovens craques para o exterior. “Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de trabalho de menores. Somos exportadores de matéria-prima e somos importadores de produto acabado”, afirmou. “Precisamos mudar essa equação. A lei colocou superpoder para os empresários.” A proposta do governo é impedir que jogadores deixem o País antes dos 19 anos.

Aldo se esquivou como pôde ao ser questionado se apoiaria uma CPI do futebol ou da CBF, como defende o deputado Romário (PSB), ex-craque da seleção brasileira. Ele ainda atacou o ex-jogador, alertando que Romário não fez uma só proposta real para o futebol brasileiro enquanto esteve na Câmara de Deputados.

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O ministro sugeriu que Romário busque apoio entre os demais deputados para suas propostas e insiste que o governo mantém sua distância em relação ao Poder Legislativo.

A reforma no futebol foi tema das diretrizes do plano de governo de Dilma, candidata à reeleição, entregues à Justiça Eleitoral no fim de semana passado. O texto diz que “desenvolver um sistema nacional de esportes que integre as políticas públicas entre os entes federados é prioridade”.

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