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Crise põe a indústria de joelhos

Sem diagnóstico correto do cenário pelo governo, setor pode continuar refém da falta de planejamento

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Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

 O setor da indústria enfrenta, no Brasil, um momento tão difícil que ainda não conseguiu se recuperar dos efeitos da crise internacional. Atualmente, a produção industrial do País está cerca de 5% abaixo do registrado em setembro de 2008, ano em que eclodiu a turbulência financeira mundial.

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A dificuldade para a recuperação da atividade industrial pode ser explicada pela perda de competitividade. Isso ocorre porque o setor convive com elevada carga de impostos, sistema tributário complexo, logística carente e câmbio valorizado. Esses fatores encarecem o produto brasileiro, que favorece a importação para o Brasil e dificulta a competição com produtos estrangeiros no mercado internacional.

Ou seja, a indústria nacional perde espaço aqui e lá fora. “A indústria realmente passa por um período muito ruim”, diz o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini. “Sempre digo que o importante não é analisar a fotografia, mas o filme para perceber o que tem acontecido com esse importante setor da economia brasileira. Está muito ruim.”

PIB em baixa. Além da baixa confiança, outros números da economia brasileira revelados recentemente confirmam o mau momento da indústria. No Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria recuou 1,5% na comparação com os primeiros três meses deste ano, enquanto o PIB total caiu 0,6%. Em relação ao segundo trimestre de 2013, a queda do setor foi de 3,40%. “Há um quadro bastante desafiador para a indústria”, diz Francini.

“Claro que há alguns aspectos conjunturais pesando, como a crise da Argentina (importadora de produtos manufaturados do Brasil), mas a avaliação é de que as dificuldades do setor são mais estruturais”, afirma Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências.

Os resultados ruins também são refletidos na produção industrial. Neste ano, entre janeiro e julho, o indicador, também apurado pelo IBGE, recuou 2,8%. A previsão da consultoria Tendências é de uma queda de 2% no acumulado de 2014. Dessa forma, na média, entre 2011 e 2014, a produção industrial terá recuado 0,5%. 

O emprego também patina: apenas a indústria de transformação de São Paulo deverá fechar 100 mil postos neste ano, segundo projeção da Fiesp. Em três anos, serão perdidos quase 200 mil empregos. “É uma brutalidade (essa perda de emprego). Olhar esses dados e ficar tranquilo significa um grau de inconsciência muito grande”, afirma Francini.

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Como consequência de todo esse cenário adverso, a indústria de transformação tem perdido espaço na economia nacional. A participação do setor no PIB brasileiro era de 19,6% no primeiro trimestre de 1995. No segundo trimestre deste ano, foi de apenas 12,5% - um patamar considerado baixo para uma economia de renda média, como a brasileira. 

Na década de 1980, a fatia do setor chegou a 25%. “Em 25 anos, nós conseguimos reduzir pela metade a participação da indústria de transformação no PIB. É difícil encontrar um país que tenha realizado tal proeza depois de ocupar um cenário importante na indústria do mundo”, diz Francini. “É a queda de participação da indústria de maneira sistemática em detrimento do setor de serviços”, afirma Bacciotti, da Tendências.

Competitividade. Na avaliação de especialistas, a retomada da indústria exigirá uma série de reformas que devolvam competitividade ao setor, como diminuição dos juros e dos impostos, simplificação da estrutura tributária e uma logística mais eficiente. “O País precisa de um diagnóstico mais correto para não ter uma intervenção pontual apenas em um setor específico”, diz o economista da consultoria Tendências.

A retomada também vai envolver uma sinalização clara do governo de um projeto para o País, sobretudo para a indústria, que requer investimentos de longo prazo. “Temos empresas na indústria que são obrigadas a trabalhar com projeções para 15 anos. O País precisa ter um projeto, definir quais são os vetores do crescimento e o que ele espera dos setores que compõem sua economia e produtividade”, afirma Francini, da Fiesp.

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