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‘Comunista’ vai apoiar tucano para presidente

Governador eleito diz que PSDB teve papel fundamental em sua vitória sobre os Sarney

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Por Leonencio Nossa
Atualização:

O governador eleito do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, sinalizou ontem que manterá, no 2.º turno da disputa presidencial, a parceria com o PSDB de Aécio Neves. Em entrevista ao Estado, ele observou que esse apoio está condicionado ao respeito à aliança de seu partido com o PT de Dilma Rousseff. Ao longo de duas horas de conversa, um dia depois de derrotar o grupo do senador José Sarney, Dino destacou que cobrará do futuro governo, seja petista ou tucano, a escolha de novos interlocutores do Maranhão. Dino observou que seu vice é Carlos Brandão, do PSDB, e o candidato ao Senado da coligação é Roberto Rocha, do PSB, também eleito. “O PSDB e o PSB foram determinantes para a minha vitória. Não posso ignorar isso”, afirmou. “O meu partido apoia a Dilma, é verdade, mas o leque de alianças montado aqui foi bastante heterogêneo. Não posso dar cavalo de pau em transatlântico e trem.”

Flávio Dino, do PC do B, foi eleito com 30% de vantagem sobre concorrente Foto: Sérgio Castro/Estadão

O governador eleito ressaltou que ainda não foi procurado. “Até agora ninguém me disputou, não (risos). Estou aqui quietinho”, brincou. Com uma vitória no domingo por quase um milhão de votos de diferença sobre o adversário Lobão Filho (PMDB), do grupo do senador José Sarney, Dino disse esperar que Brasília reavalie a interlocução com o Estado. Os aliados de Sarney têm hoje amplo espaço na máquina federal, com o comando de ministérios e autarquias. “Qualquer que seja o presidente eleito, eu tenho essa expectativa (de mudança de interlocução), em razão do respeito à vontade popular”, disse Dino. “Não é um desejo pessoal meu. É um fato político. Foi uma decisão do povo do Maranhão que espero que seja respeitada”, completou. Para o governador eleito, a influência da “oligarquia” Sarney em Brasília ocorre desde o governo JK (1956-1960) e passou a ser desproporcional após o resultado das urnas, no último domingo, no Maranhão. A manutenção desse espaço seria, na sua avaliação, uma “violência” contra a vontade da sociedade maranhense. “Não é uma violência contra o Flávio Dino. A sociedade se pronunciou de forma eloquente, nítida, de modo tão destacado, enfático, incisivo e contundente que não permite uma dupla leitura”, disse. “Eles usaram todo o arsenal deles contra nossa campanha, ainda assim a sociedade deu uma resposta avassaladora.”Oligarquia. Dino ressaltou que seu grupo político não pode desprezar o poder dos Sarney e avalia que o ex-governador Jackson Lago (PDT), que venceu a disputa de 2006, enfrentou uma correlação de forças desigual e errou ao “subestimar” o grupo adversário. Lago acabou sendo afastado do governo pelo Judiciário do Maranhão. “Você não pode subestimar os representantes da oligarquia porque a ânsia de poder deles é muito grande, o apego ao poder, à fortuna.” Em seu apartamento num bairro de classe média de São Luís, Dino afirmou que pretende, no governo, priorizar a melhoria das condições de vida no Maranhão. “Temos a contradição de um Estado muito rico, de potencialidade, boa logística e com base econômica importante que não consegue garantir condição de vida digna para a população”, disse. Quando recebeu a notícia da vitória, na noite de domingo, Dino afirmou que “o coronelismo acabou no Maranhão”. Ontem, ele disse que não se precipitou. “O resultado eleitoral das urnas permitiu essa conclusão. Ganhamos com 30% de vantagem. Elegemos o senador (Roberto Rocha, do PSB). Não foi um ato de vontade minha, mas da sociedade”, disse. “A sociedade cansou, quer um regime oxigenado, republicano, democrático, que ouça e aplique bem o dinheiro público.” Dos 42 deputados da nova Assembleia Legislativa, apenas 14 são ligados a Dino. Ele espera fazer maioria na Casa e garantir a governabilidade no Estado com forte presença do grupo de Sarney. “Espero uma transição sem sabotagens.” 

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