Comissão da Verdade visita base naval no Rio que teria funcionado como centro de tortura

Pela Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores, em São Gonçalo, no Rio, passaram cerca de 200 presos entre 1969 e 1971

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Por Thaise Constâncio
Atualização:

RIO - As Comissões Nacional e Estadual da Verdade realizaram nesta terça-feira, 21, a última das sete visitas de averiguação a instalações militares que teriam funcionado como centros de tortura na ditadura. Um ex-militar e 13 ex-presos políticos estiveram na Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, com peritos e pesquisadores. Pelo local, situado às margens da Baía de Guanabara, passaram cerca de 200 presos entre 1969 e 1971.

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Então soldado dos Fuzileiros Navais, Heleno Cruz ingressou nas Forças Armadas em 1969 “para ajudar os presos”. Ele disse que, ao menos três vezes, jogou na Baía de Guanabara torniquetes, martelos e outros equipamentos usados nas sessões de tortura. Também afirmou que agentes da Polícia Federal e da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) iam à base torturar os presos.

“Reconhecemos os lugares onde as torturas ocorreram com a conivência do comandante da Ilha (capitão de Mar e Guerra José Clemente Monteiro)”, disse Ziléa Reznik. Ela afirma ter sido a segunda mulher a ser presa em todo o Sudeste e a primeira a ser levada para a Ilha das Flores.

Umberto Trigueiros relembra que passou a maior parte do tempo nu e detido na solitária, de onde era retirado para ser torturado. “Tivemos o azar, ou a sorte, de ser presos em 1969, ou teríamos sido dizimados”.

As vítimas contaram que as torturas eram acompanhadas pelo médico José Lino Coutinho, que, segundo elas, indicava aos militares se os presos ainda tinham condições físicas de serem torturados. Alguns presos eram levados para o Centro de Informações da Marinha para novos “esclarecimentos”.

“O decréscimo de uso da Ilha coincide com a intensificação do uso do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio e da Casa da Morte de Petrópolis (a partir de 1971)”, disse o coordenador da Comissão, Pedro Dallari.

O próximo passo será a produção do relatório final, a ser entregue à presidente Dilma Rousseff em 10 de dezembro, Dia Mundial dos Direitos Humanos.

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