Campeões de votos têm atuação apagada

Levantamento técnico da Câmara mostra participação apática em tomadas de decisão

PUBLICIDADE

Por Erich Decat e Nivaldo Souza
Atualização:

Brasília - Campeões nas urnas na última eleição, os 30 deputados federais que tiveram mais votos em seus Estados em 2010 chegam em sua maioria ao fim do mandato com uma atuação pífia. Levantamento da área técnica da Câmara feito para o Estado mostra que a maior parte desses parlamentares teve uma participação apática em tomadas de decisão e no debate dos principais temas do Congresso, no plenário e comissões.

PUBLICIDADE

A lista inclui o deputado mais votado de cada Estado, acrescida por três parlamentares que figuraram no ranking dos dez principais em número de votos no País, conforme dados do Tribunal de Superior Eleitoral (TSE). Apenas cinco dos 30 concentraram 59% dos discursos e apartes em tribuna. O quinteto foi responsável por 34,5% das matérias relatadas pelo grupo e por 25,7% dos projetos, emendas e requerimentos elaborados por eles.

Um dos critérios utilizado para a análise do desempenho dos deputados levou em conta o número de matérias relatadas pelos parlamentares. O papel do relator é orientar o voto dos colegas sobre temas que podem virar lei no País. Além disso, a relatoria pode ser usada para barganhar apoio a projetos individuais. 

À frente do bloco PP-PROS, a terceira maior bancada da Câmara, o líder Eduardo da Fonte (PP-PE), o segundo mais votado em seu Estado, relatou apenas três projetos. O deputado argumenta, por meio de sua assessoria, que em 2011 e 2012 foi segundo vice-presidente da Câmara, o que o impedia de relatar projetos. Já em 2013, Fonte alega que foi presidente da Comissão de Minas e Energia e, por “tradição”, não é recomendável relatar. Em 2014, ele diz que assumiu a liderança partidária e, em razão disso, “acha melhor dividir” as relatorias entre seus correligionários. 

Deputado mais votado do País, o palhaço Tiririca relatou oito projetos, mas nunca defendeu uma ideia ou projeto em discurso na tribuna Foto: Dida Sampaio/Agência Estado

Deputado mais votado do País - escolhido por 1,35 milhão de eleitores -, Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o palhaço Tiririca, relatou oito projetos - entre eles, um que renomeava viaduto em Guaratinguetá (SP) e outro denominando Caçapava (SP) como “Capital Nacional do Antigomobilismo”, ou seja, a cidade da restauração e manutenção de veículos antigos. Entretanto, em quatro anos, Tiririca nunca defendeu uma ideia ou projeto em discurso na tribuna.

Atual líder nas pesquisas para o Senado no Distrito Federal, José Antônio Reguffe (PDT) empata em relatorias com Tiririca, que supera outros oito parlamentares - como os ex-líderes de bancada ACM Neto (DEM-BA) e Ana Arraes (PSB-PE). Ambos deixaram os mandatos mais cedo para assumir os cargos de prefeito de Salvador e de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), respectivamente. No topo da lista está o deputado Esperidião Amin (PP-SC), com 79 projetos relatados. 

Os 30 deputados analisados pelo Estado fizeram 3.787 manifestações na tribuna, entre discursos e apartes, e apresentaram 6.560 proposições - como projetos individuais e coletivos, emendas e requerimentos. Eles foram relatores de 457 projetos, medidas provisórias, entre outros. 

Publicidade

O deputado Vinícius Gurgel (PR), o mais votado do Amapá em 2010, é o último da lista em número de proposições - apenas 32. Em penúltimo está Tiririca - com 42 proposições, sendo 30 projetos próprios relacionados ao circo. Nenhum aprovado. 

Para a comparação, no lado oposto, com mais matérias apresentadas durante o mandato entre os 30 parlamentares da lista, a deputada Fátima Bezerra (PT-RN) aparece com um total de 757 proposições. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.