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Campanha tem ‘horário eleitoral da desconstrução’

Dilma, Marina e Aécio chegam ao fim de seus programas de TV do 1º turno após 46 dias de apresentações recheadas de críticas

Por Edgar Maciel e Flavia Guerra
Atualização:

Disputando cada voto para chegar ao 2.º turno, os candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) fizeram um apelo final no último programa eleitoral exibindo na TV. Na noite desta quinta-feira, 2, a campanha do tucano o classificou como o “voto útil contra o PT” e a ex-ministra pediu que o eleitor votasse “com fé” no número 40.

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Aécio afirmou que se preparou por 30 anos para assumir a função e declarou: “Estou pronto para ser presidente”. Já Marina aproveitou os seus últimos dois minutos na TV para divulgar o número da sigla, que ainda é desconhecido por boa parte do eleitorado. 

A presidente Dilma Rousseff (PT), por sua vez, destacou o mote “governo novo, ideias novas” e fez um resumo de suas propostas e realizações de governo. O seu principal cabo eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apareceu duas vezes na propaganda.

Até esta quinta-feira, foram 46 dias e quase 90 horas de programação. A marca principal dessa temporada de exibição na TV foi de que, mais do que tentar construir uma imagem, os principais concorrentes à Presidência da República apostaram na desconstrução dos adversários. Dilma, Aécio e Marina fizeram uso de seus respectivos espaços para apontar as falhas e atacar uns aos outros.

Para o sociólogo e jornalista Laurindo Leal Filho, trata-se de uma tendência natural. “Foi uma campanha muito disputada. De um lado, os dois candidatos de oposição (Aécio e Marina) tentaram desconstruir o PT. Já Dilma mostrou que ambas as candidaturas de oposição representariam um retrocesso às conquistas sociais obtidas pelo País nos últimos anos. Os candidatos chegaram aos limites da ética, mas não ultrapassaram”, analisa.

Agressividade. Os ataques dominaram as inserções políticas desde o início da propaganda. A cada seis minutos do horário eleitoral na TV, um foi usado pelos candidatos para contestar os adversários, conforme o Estado mostrou no domingo.

Os confrontos se intensificaram depois da divulgação do plano de governo de Marina, no dia 29 de agosto. A campanha de Dilma iniciou uma onda de ataques à adversária, criticando o fato de o pré-sal não estar citado como uma das prioridades na matriz energética do País. 

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Também foi questionada a proposta de autonomia do Banco Central. A propaganda do PT simulou o que aconteceria se isso ocorresse ao mostrar uma família sem comida na mesa devido às altas taxas de juros. 

Para Cláudio Couto, cientista político e colunista do Estado, a tática foi decisiva para desconstruir Marina. Mas ele faz uma ponderação: “Isso também se deve às próprias ambivalências dela. Ela, em certa medida, perdeu para si própria”.

Marina, por sua vez, usou uma sequência de programas para rebater o que ela afirmou serem “mentiras infundadas” e adotou a tática de usar trechos emotivos de seus discursos públicos. No dia 16 de setembro, reproduziu uma fala emocionada em sua carreata em Fortaleza, no Ceará, e disse que nunca acabaria com o Bolsa Família. “Não é um discurso. É uma vida”, afirmou. 

Nos ataques, concentrou-se em destacar os problemas na gestão da Petrobrás e, no dia 25 de setembro, chegou a afirmar que a petista seria responsável pelo prejuízo da estatal na compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA. “A Petrobrás perdeu metade do seu valor e aumentou quatro vezes sua dívida.”

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Moeda. Com a subida de Marina nas pesquisas, Aécio tentou vincular a imagem da ex-ministra, que foi filiada ao PT por quase duas décadas, à de Dilma. Ele afirmou que as duas “são lados diferentes da mesma moeda”, impondo-se como a única opção para mudar o Brasil. “Dilma governou de forma errática e não vi Marina condenando a velha política quando aconteceu o escândalo do mensalão”, disse. 

Os cientistas políticos ouvidos pelo Estado destacam o trabalho de marketing por trás dos candidatos. “João Santana (responsável pelo marketing da campanha de Dilma) soube explorar isso muito bem. Ele tinha tempo de TV e fez isso de forma muito competente. Às vezes até ultrapassando o limite, a meu ver, do que seria uma forma adequada de fazer isso”, disse Couto. 

A audiência do período também é fator a se destacar. Ainda que o Ibope do horário político noturno durante o último mês teve a média de 28,3 pontos (1.839.500 domicílios na Grande São Paulo), os números são consideráveis. Como base de comparação, a média da novela Em Família foi de 29,6 e a da atual, Império, é de 29,4. “É bastante, sim. Não tenho os números exatos de outras eleições, mas este número é importante. Tivemos uma queda natural pela disseminação da TV a cabo, o que é natural”, afirmou Leal Filho. / COLABORARAM ISADORA PERON e RICARDO GALHARDO 

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